Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Esforços Empresariais na Economia Japonesa

7 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , ,

Notícias provenientes de diversas fontes japonesas e estrangeiras informam sobre os esforços de adaptação que estão sendo efetuados pelas empresas japonesas para se ajustarem ao novo quadro econômico globalizado. Ora são projetos de expansão no exterior, ora são inovações tecnológicas, ora a junção de esforços de diversas organizações, todos de limitada dimensão. Denotam o quanto é difícil superar as dificuldades, quando elas se instalam e se consolidam.

Desenvolveu-se o conceito no Japão que eles acabaram ficando com uma cultura de “Galápagos”, muito particular de um arquipélago, difícil de ser utilizada no resto do mundo. Os que observam as diversas tentativas ora efetuadas notam que eles valorizaram exageradamente o trabalho coletivo, inibindo as iniciativas individuais que estimulam o surgimento de excepcionais empresários inovadores, como os apontados por Joseph Schumpeter. Os méritos individuais precisam ser reconhecidos, pois muitos dos prêmios Nobel japoneses desenvolveram os seus trabalhos no exterior, mostrando que existem dificuldades nas suas organizações internas.

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Ainda que os trabalhos coletivos sejam importantes, há que reconhecer o papel dos estadistas, sempre individuais, tanto políticos como empresariais, capazes de exercer uma liderança que arrastem multidões de seguidores de suas iniciativas. O Japão parece ter desenvolvido uma cultura onde estes talentos individuais são inibidos.

Como mero exemplo, nas escolas japonesas, os alunos que se destacam acabam sofrendo o chamado “ijime”, uma espécie de sanção imposta pelos seus colegas para que se iguale na mediocridade dos demais. Os desenvolvimentos tecnológicos dentro das empresas japonesas costumam decorrer do acúmulo de pequenas contribuições de toda a equipe interna, sem que contribuições externas importantes sejam também incorporadas, ou reconhecidos os talentos individuais.

Parece conveniente que os intelectuais, acadêmicos e as lideranças japonesas façam uma autocrítica do comportamento das últimas décadas, que se seguiu ao chamado milagre econômico, que decorreu em grande parte da desvalorização cambial permitida pelo resto do mundo. Lembre-se de que o câmbio japonês manteve-se, por muito tempo, a 360 ienes por dólares, acabando por se modificar pelo chamado Acordo de Plaza.

Nada indica que as muitas qualidades dos japoneses deixaram de existir. O hábito de uma elevada poupança, a parcimônia nos desperdícios, a dedicação ao trabalho. Mas o sucesso econômico fez com que fossem exageradamente condescendentes com seus filhos, que não mais necessitavam fazer os sacrifícios que foram efetuados pelos seus antepassados, criados num arquipélago dotado de poucos recursos e muitos desastres naturais.

Há que se recuperar o espírito de enfrentar as limitações, usando-as como desafios para novas criações. Não se pode permitir que o melhor de sua juventude se conforme com a mediocridade, ou se desespere até chegar ao suicídio. Seria interessante estimulá-los a trabalhos voluntários em países que enfrentam as mesmas dificuldades dos seus antepassados, no sudeste asiático, na África ou outros rincões isolados de extrema pobreza.

O Japão tem ainda um grande papel a desempenhar no mundo, com tudo que já acumulou. Mas precisa se conscientizar que faz parte deste mundo, necessitando incorporar também as culturas que permitiram a sobrevivência dos outros. Não pode continuar a viver na dependência de outros países, é preciso “desmamar” os japoneses.

Muitas das considerações desta nota são duras e a generalização é sempre injusta. Mas o mundo não pode ficar indiferente diante da deterioração que continua ocorrendo no Japão. Há que se recuperar e voltar às grandes iniciativas que os caracterizaram antes mesmo do surgimento dos chamados Tigres Asiáticos, quando chegavam ao outro lado do mundo, como o Brasil, para viabilizar iniciativas conjuntas que beneficiaram todo o mundo.

Intercâmbios com o exterior, sem dúvida, mas não se sujeitar vergonhosamente à dependência alimentar, energética, de defesa externa. Parece chegada a hora de levantarem novamente suas cabeças, sem ficar lamentando indefinidamente suas desgraças. Se não contam com quadros masculinos, há que se socorrer das que enfrentaram as dores do parto, como lembrava o saudoso Toshiwo Doko, referindo-se à Margareth Thacher.