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Artigo Com Pesquisas Sobre Delfim Netto na revista Piauí

11 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Sempre é difícil fazer um apanhado geral sobre uma personalidade como o professor ADN – Antonio Delfim Netto que já exerceu variadas funções importantes ao longo de seus 86 anos e que continua mais ativo que muitos jovens nos seus estudos. O jornalista Rafael Cariello efetuou muitas pesquisas, inúmeras e demoradas entrevistas tanto com o próprio professor, como muitos dos seus auxiliares, bem como outras personalidades que o conhecem diretamente ou pelos seus trabalhos para chegar a este artigo publicado no número 96 da revista Piauí, deste mês de setembro.

Tendo desempenhado um papel de destaque tanto no período autoritário do Brasil, antes como depois da volta à democracia, não poderia deixar de haver variadas interpretações sobre o seu papel que foi resumido num artigo bastante longo, onde não se observa nenhuma lacuna marcante, mas talvez pequenos exageros sobre as influências de seus colaboradores, entre os quais estou incluso. O trabalho resultante merece elogios pelo seu equilíbrio e qualidade.

O artigo, de forma criativa, começa por mencionar o seu papel nos dois períodos em que esteve no comando da economia brasileira, o primeiro entre 1967 a 1974, quando o crescimento foi acentuado depois de uma recuperação da recessão anterior, chegando a ser chamado de “milagre” indevidamente, pois era o resultado de muito trabalho. No segundo, já sobre os efeitos das duas crises petrolíferas mundiais, a que se seguiu uma crise financeira internacional, entre os anos 1979 a 1994, quando todo o mundo estava sendo atingido e se procurava somente estabilizar a inflação ao nível de 200% ao ano, procurando manter o setor externo como alavanca de um crescimento.

Ainda que o posterior Plano Real tenha estancado o processo inflacionário de forma imaginativa, não se conseguiu preservar a importância do setor externo, que hoje provoca problemas das pressões inflacionárias e um baixo crescimento da economia brasileira. Nem sempre houve uma compreensão adequada sobre o assunto, inclusive da equipe do ex-Presidente FHC – Fernando Henrique Cardoso, ele que também foi professor na FEA-USP, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, antes de passar para a Sociologia. Quando FHC era representante no Conselho Universitário da USP, ADN era o seu substituto.

clip_image002                                      Professor e economista Antonio Delfim Netto

O artigo procura destacar a capacidade de ADN manter o diálogo com as mais variadas correntes de pensamento econômico e político, como no início dos contatos com o ex-Presidente Lula da Silva, quando ele era conhecido como czar da economia e Lula começava a se destacar como líder metalúrgico. Também as lealdades dos seus colaboradores, muitos de origem na FEA-USP que ajudaram a compor seus Delfim’s boys, como Eduardo Pereira de Carvalho, Carlos Viacava, Carlos Antonio Rocca, Akihiro Ikeda, Affonso Celso Pastore e muitos outros. Também foram sendo agregados outros ao longo de sua carreira, provenientes das variadas regiões deste imenso Brasil.

A origem humilde de ADN é mencionada com o início da carreira profissional na função de office-boy na Gessy, onde teve a sorte de ser orientado para leituras que propiciaram a formação de uma fabulosa biblioteca, já doada para a FEA-USP. Muitos que conviveram com o seu trabalho no governo, como Ernani Galveas, Antonio Dias Leite, Shigeaki Ueki, Carlos Alberto Andrade Pinto, Mailson da Nóbrega, Luiz Paulo Rosenberg prestaram seus depoimentos. O gosto comum pela leitura incluiu depoimentos como de Eduardo Gianetti da Fonseca, hoje um dos principais assessores da candidata Marina Silva.

Muitos episódios relacionados com os governos autoritários estão mencionados, como do período do governo Costa e Silva, com o posterior Presidente Ernesto Geisel, mesmo alguns que não estavam devidamente divulgados, onde se incluíam Octávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos e Mário Andreazza. Também foram incorporados trabalhos importantes como do jornalista Elio Gaspari sobre o período que mantinha contatos frequentes com ADN.

Episódios críticos como os desligamentos dos ministros Fábio Yassuda e Cirne Lima também são abordados. Sobre os desligamentos dos ministros Karlos Rischbieter e Mário Henrique Simonsen no governo João Figueiredo atribuindo a empurrões de ADN não parece corresponder à realidade, pois foram eles que tomaram a iniciativa de desligar-se diante do difícil quadro em que se encontrava a economia brasileira.

São mencionados contatos mais recentes com Lula da Silva e Dilma Rousseff, inclusive com a participação de Luiz Carlos Belluzzo, fatos que não devem ser atribuídos à importância dada por muitos. Alguns economistas como Samuel Pessoa se impressionam com a capacidade de leitura de ADN, como também Carlos Langoni observa o recebimento de muitos artigos acadêmicos com observações registradas.

São mencionados casos como os ocorridos com Luis Paulo Rosenberg e Eduardo Gianetti da Fonseca com a preocupação de ADN sobre assuntos pessoais, que nem tinham relações com a economia ou a política, mostrando sua disposição de ajudar até na solução de pequenos problemas.

O artigo exagera no auxílio de alguns colaboradores, como é o meu caso, no entanto, observa-se que ADN se comporta muitas vezes como um verdadeiro capo, com destaque para os membros de sua família, mas também aos que foram incorporados para sua equipe ao longo de muito tempo.