Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Experiência Odontológica em Tóquio

16 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , ,

Ainda que muitas pessoas não apresentem sintomas de problemas odontológicos, os dentistas informam que durante os voos aéreos eles podem se manifestar de forma inoportuna e desagradável. Uma experiência pessoal acabou ocorrendo depois de um voo de Cingapura para Tóquio, num fim de semana mais longo em decorrência de um feriado no Japão, que costuma ser deslocado para a segunda-feira. Durante a noite num hotel, a dor se tornou insuportável, mas no dia seguinte, devido à efeméride, quase nada funcionava adequadamente numa grande metrópole como a capital japonesa. Fui informado que existia em cada bairro um plantão odontológico de emergência nos feriados. Fui encaminhado para o mais próximo que ficava no próximo bairro de Mita, com um profissional, uma enfermeira e uma atendente numa instalação adequada e confortável. Mas fui informado que só se atendia em situação de emergência, sem um procedimento definitivo depois do diagnóstico da situação.

O dentista, para segurança do seu diagnóstico, apesar do inchaço que no rosto que era evidente, decidiu pela necessidade de um raio-x com todo o cuidado, que efetuado mostrou que a base de um dos dentes estava infeccionado em decorrência da mudança de pressão a que os passageiros estão sujeitos nos voos. Para agravar a situação, havia um forte tufão que caminhava em direção a Tóquio, com os meios de comunicação, principalmente a televisão, acompanhando este fenômeno climático, a velocidade de seu deslocamento, bem como os ventos que provocava com uma precipitação pluviométrica elevadíssima em torno do seu trajeto. Mesmo que as previsões fossem feitas, não havia uma segurança exata do seu rumo como da intensidade dos ventos, mas era possível se prever chuvas e ventos fortes na região. Com o diagnóstico feito pelo dentista, foram receitados medicamentos para a redução das dores, como da infecção, recomendando-se resfriar a região para redução do inchaço. Ainda bem que, como em muitas clínicas e hospitais japoneses, os medicamentos já eram oferecidos, pois não seria fácil localizar uma farmácia num dia destes, pois elas são poucas no Japão, principalmente quando comparado com o Brasil.

Os medicamentos para quatro dias foram fornecidos, bem como a recomendação de que se procurasse um profissional de odontologia depois deste período. Em Tóquio dispõe-se de alguns que atendem inclusive em inglês para pacientes estrangeiros. A companhia de seguro de viagem recomendou alguns, para possível reembolso. Do hotel que estava utilizando, apesar da redução das dores e da inflamação, optei pelo mais próximo, o Shiodome City Center Dental Clinic.

Para quem não está familiarizado com Tóquio, Shiodome é um verdadeiro bairro novo criado sobre a área de um antigo pátio ferroviário na capital japonesa, onde se localizam grandes edifícios bem atualizados. Suas instalações são modernas, comportando uma grande série de atividades, até uma importante estação de televisão.

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Shiodome, bairro construído sobre um antigo pátio ferroviário

A clínica contava com o que de mais contemporâneo e atualizado pode se contar para atender aos pacientes que necessitam dos mais variados cuidados odontológicos, com uma equipe de profissionais habilitados para atender em japonês como em inglês. Com todas as informações do paciente, eles fizeram o primeiro exame que recomendava um novo raio-x, agora panorâmico, que fornecia a imagem completa da arcada dentária. O paciente tinha uma tela à sua frente com toda a imagem ampliada, onde o dentista explicava o que estava ocorrendo. Havia claramente uma bolsa de pus na retaguarda de um dos dentes, que com a pressão na viagem aérea procurava uma saída.

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Exemplo de um raio-x panorâmico, mas o meu tinha uma qualidade de imagem bem superior

Isto provocava a infecção e a dor, que estavam aliviados pelas medicações anteriores, mas não recomendaria que o paciente utilizasse um transporte aéreo, pois o problema se repetiria. A recomendação era, mediante o uso de uma anestesia, se procedesse à extração de todo o pus possível, deixando até um canal para a eventual saída de um resíduo, ao mesmo tempo em que medicamentos anti-inflamatórios e anti-infecções fossem ministrados por alguns dias, até a avaliação da evolução do quadro.

Uma técnica utilizada pelos profissionais japoneses é o uso do sal antes da picada do anestésico, evitando problemas de infecção e de uma eventual intensidade da dor.

Tudo transcorreu de forma brilhante, sem a mínima dor, ao mesmo tempo em que na junção de dois dentes, um superior e outro inferior, fosse efetuado uma espécie de redução do contato, para evitar pressões exageradas na hora da mastigação.

Muito interessante foi também a experiência do uso de uma farmácia no Japão. Com o receituário na mão, o paciente é solicitado optar por medicamentos genéricos ou de marca, necessitando fornecer um quadro do seu passado médico, por escrito como se fosse numa consulta médica, para as possibilidades de alergias ou qualquer outra contraindicação. Um profissional de farmácia informa todos os detalhes dos medicamentos, suas indicações, dosagens, as formas de serem utilizados. Os medicamentos são fornecidos somente nas quantidades necessárias para os dias do seu uso recomendado pelo odontologista, e não em caixas com quantidades além do indispensável.

Com toda esta qualidade de serviços, fiquei imaginando os preços cobrados, e fiquei muito surpreso ao notar que não chegam a ser a metade dos serviços prestados em outros países ou no Brasil. Um intercâmbio cogitado pelo governo brasileiro com o japonês pode proporcionar uma melhora que muitos destes aperfeiçoamentos também estejam disponíveis para os brasileiros.