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Vale do Ribeira Para Abastecer São Paulo de Água

7 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: , , ,

Lamentavelmente, nem sempre os administradores públicos seguem as sugestões de especialistas de alto nível como no caso do abastecimento de água, que agora se tornou crítico. Já nos primeiros anos da década dos anos sessenta, o professor Lucas Nogueira Garcez, que foi governador do Estado de São Paulo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, uma das maiores autoridades em hidráulica no Brasil, apresentava na CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai a sugestão que o Vale do Ribeira fosse utilizado para abastecer de água à região metropolitana de São Paulo, que carecia de outras fontes alternativas importantes. Ele e o seu assistente, professor Eduardo Yassuda, posteriormente secretário de Obras do Estado de São Paulo, já apresentavam estas sugestões, apesar das diferenças de altitudes das águas daquele Vale do Ribeira e São Paulo. Muitas gerações de administradores públicos passaram pelo Estado de São Paulo e só agora surge novamente a lembrança dos estudos efetuados.

O artigo publicado no site do Estadão, por José Maria Tomazela, informa com muitos detalhes esta atual necessidade, ainda que os custos do seu bombeamento possam ser importantes. Informa que o volume pode ser correspondente a duas Cantareiras que hoje é o reservatório mais crítico e fundamental para o atendimento da metrópole paulistana, que além da Capital abrange diversos municípios ao seu redor. Não se trata somente do abastecimento para as residências, que certamente é prioritário, mas todas as atividades econômicas da mais importante região da economia brasileira. Informa-se que se trata de um conjunto de oito represas capazes de fornecer 60 mil litros por segundo.

Todos os que estão familiarizados com os mapas da região sabem que o Vale do Ribeira fica no extremo sul do Estado de São Paulo, contando também com uma parte no Estado do Paraná, tendo como sua principal cidade Registro. Trata-se de uma área que conta relativamente com muitas matas do Atlântico mantidas como reservas, com atividade econômica menos intensa do que o resto do Estado, onde existe uma represa importante que fornece energia para a produção de alumínio de um grupo privado. A sua altitude, praticamente ao nível do mar, diferencia-se bastante do planalto da região metropolitana de São Paulo.

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Mapa dos municípios da região do Vale do Ribeira, parte no Estado de São Paulo e parte no Estado do Paraná

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Bacia do Rio Ribeira do Iguape

Segundo o artigo publicado no Estadão, a região foi a menos afetada pela estiagem que atingiu São Paulo neste ano. O uso dessas águas para suprir a demanda da região metropolitana está no Plano de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, do governo estadual, que prevê alternativas para o abastecimento urbano até 2035. E esclarece que a concessão de uso das barragens feita pelo governo federal à empresa de alumínio vence em 2016. De acordo com o secretário executivo do Comitê de Bacia Hidrográfica Ribeira de Iguape e Litoral Sul, Ney Ikeda, a renovação terá de ser negociada tendo como foco o uso múltiplo das águas.

O artigo esclarece que a primeira obra de transposição da água do Vale do Ribeira para a Grande São Paulo deve ficar pronta em 2017. O Sistema Produtor São Lourenço, resultado de uma parceria público-privada entre a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o Consórcio São Lourenço, prevê a captação de 4,7 mil litros por segundo na Represa Cachoeira do França, no Rio Juquiá, no limite entre Ibiúna e Juquitiba. A água será transportada por 83 km de adutoras até uma estação de tratamento em Vargem Grande Paulista, na região metropolitana, para ser distribuída.

O estudo, continua o artigo, concluído em 2013, antes da estiagem que afetou o Estado, estima que a demanda de água na Grande São Paulo em 2035 chegará a 283 mil litros por segundo – 60 mil litros a mais do que a disponibilidade atual em períodos normais. Segundo o plano, o Vale do Ribeira é a área mais próxima com água disponível. E o artigo esclarece que, para Ikeda, o uso de um volume maior de água do Rio Juquiá requer novos estudos. Na opinião do técnico, o Vale do Ribeira tem abundância de água com qualidade porque as condições físico-geográficas do ambiente que abriga os recursos hídricos foram preservadas.

Não se trata de um projeto fácil de ser executado, mas, a esta altura da crise, o abastecimento de água exige soluções heroicas, ainda que custosas.

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