Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ampliação das Produções Japonesas no Brasil

15 de agosto de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, webtown | Tags: alguns desejos de exportação, aumento da produção no Brasil, necessidades de pragmatismo

Existem alguns setores da economia brasileira que contam comprovadamente com vantagens comparativas com o resto do mundo. Entre eles, está a produção de celulose e papel, pois as produções das florestas manejadas como agricultura, podem produzir árvores em torno de sete anos, quando em outras localidades se chega a exigir o dobro do tempo. Parte desta produção é exportada, ajudando a economia brasileira. Entre os grandes produtores japoneses, destaca-se a Oji Paper, a gigante asiática que é a controladora da brasileira Cenibra, e está mantendo contatos com a Fibria, que nasceu da fusão da Votorantim e da Aracruz, ambas gigantes brasileiras, como noticiado pelo Valor Econômico, num artigo de Stella Fontes, na sua edição para o fim de semana passado.

O presidente Kazuhisa Shinoda anunciou o desejo de a Oji Paper entrar no mercado latino-americano de papel, não se limitando à compra de celulose que é sua matéria-prima. A Fibria parece interessada em concentrar suas atividades na produção de celulose usando sua tecnologia florestal. É interessante que estes grupos japoneses adicionem valor no Brasil em seus produtos, dos setores onde possuem avançadas tecnologias.

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Planta industrial da Cenibra

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Kazuhisa Shinoda e uma das instalações da Oji Paper no Japão

Esta colaboração nipo-brasileira já vem de longa data e está se aprofundando quando a economia brasileira se mostra atrativa para grandes grupos como a Oji Paper. E ocorre num setor estratégico onde os japoneses possuem tradições centenárias e tecnologias avançadas.

Isto contrasta com alguns interesses de poderosos grupos japoneses que enfrentam dificuldades com o baixo crescimento da economia japonesa, e a perda de sua competitividade nos mercados externos, ainda que detentoras de tradição e tecnologias. Ainda assim insistem em fornecer seus produtos para mercados emergentes sem promover as produções locais de forma expressiva, mesmo que já tenham unidades em países asiáticos.

A evolução da economia global, incluindo os emergentes da América do Sul, acabará exigindo transferência de parte de suas produções, se desejarem marcar a sua presença de forma expressiva. Existem oportunidades, mas seus produtos necessitam estar adequados aos mercados locais, sendo que parte pode visar mercados externos, colaborando com as economias locais criando empregos de qualidade. Em alguns casos, serão necessárias pesquisas para o melhor aproveitamento tanto dos recursos como das especificidades das demandas locais, que sempre acabam se diferenciando com as diferenças culturais.

Tudo indica que não basta contarem com tecnologias e produtos de qualidade, pois as exigências locais estão se elevado, havendo muitas oportunidades de investimentos, mas sempre existem diferenciações até nas matérias-primas utilizadas, como nos recursos humanos utilizados, para se chegar a produtos que se ajustam as demandas locais.

Ainda que o mundo esteja cada vez mais globalizado, pode ser um equívoco considerar de alta qualidade o que já foi desenvolvido para as condições específicas do Japão, por exemplo, que sempre acaba exigindo uma adaptação às condições de outras localidades. A qualidade deve ser considerada quando se ajusta melhor às características peculiares dos consumidores que podem sofrer ligeiras mudanças, exigindo uma flexibilidade que nem sempre existe. O que é bom para alguns nem sempre é também para todos.