Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Kurosawa Segundo Teruyo Nogami

3 de janeiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: , ,

Da leitura completa do livro de Teruyo Nogami sobre os 50 anos de trabalho com Akira Kurosawa consegue-se o retrato de corpo inteiro deste notável cineasta. A autora juntou uma série de ensaios por ela escritos para boletins do chamado Kinema Kurabu (Clube do Cinema) por anos, completou-os com entrevistas de outros membros da equipe de Kurosawa, num trabalho que demandou seis anos. A obra acabou sendo publicada em japonês em 2001 pela Bungei Shunju, editora de uma notável revista de elevado prestígio.

No Posfácio do livro, a autora informa que seria impossível com Kurosawa vivo, pois ele se manifestaria com um comentário como: “O que passei não foi nada disso. Você entendeu tudo errado”. A filmografia completa deste cineasta amplamente reconhecido no meio cinematográfico mundial começa em 1941 com o filme “Uma” e termina em 1999 com “Depois da chuva”, com 32 filmes. 19 últimos com a participação de Teruyo Nogami, desde Rashomon em 1950, que o consagrou internacionalmente, até o último.

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Pela descrição do livro, que retrata os bastidores dos muitos filmes, Akira Kurosawa era um diretor exigente nos mínimos detalhes, difícil no trato pessoal, trabalhando sempre com uma grande e dispendiosa equipe, com orçamentos caros. Seus últimos filmes acabaram sendo apoiados por consagrados e famosos diretores do exterior, que o consideravam um gênio, que não contava com o suporte necessário no Japão.

Entre eles, Dersu Uzula com o incentivo do soviético Sergei Gerasimov, Kagemusha com a versão estrangeira produzida por Francis F. Coppola e George Lucas, Sonhos com a apresentação de Steven Spielberg.

No final do livro há uma descrição suscinta de seus contatos com os principais cineastas do mundo, que começou em 1957 com o seu filme Trono Manchado de Sangue exibido na abertura e premiado no Primeiro Festival Nacional do Filme no National Film Theatre, em Londres. Entre os demais premiados estavam John Ford (No tempo das diligências), René Clair (Le Million), Vittorio De Sica (Ladrão de bicicletas), Laurence Olivier (Hamlet), com os respectivos diplomas entregues pela princesa Margaret. Todos clássicos do cinema mundial.

O livro descreve a forte liderança exercida por Akira Kurosawa como diretor, e até ríspidos episódios de atritos com atores e outros componentes da equipe. Até as condições mais adversas enfrentadas nas filmagens, onde o clima não podia ser controlado por ele, bem como os animais e a música. Dotado de grande memória, ele era rigoroso nas edições dos filmes, lembrando-se das diversas filmagens e das variadas cenas, numa época quando ainda não se contavam com os recursos eletrônicos hoje disponíveis no cinema. As críticas dos jornais o irritavam, pela incompreensão dos esforços despendidos.

Com uma linguagem agradável e elegante, o livro mostra o quanto era difícil trabalhar com um gênio, que nós mortais só conhecemos pelas obras finalizadas, nas confortáveis salas de cinema.



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