Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dificuldades nas Mudanças Culturais Até dos Adolescentes

24 de janeiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , | 2 Comentários »

Há algumas décadas, um amigo japonês que trabalhou alguns anos no Brasil queixou-se das dificuldades de adaptação de sua filha às escolas japonesas, acabando por sofrer os chamados “ijimes” (uma espécie de bullying), ou discriminações dos colegas de classe. Hoje, um artigo no The Japan Times trata do mesmo assunto, ainda que o mundo tenha se globalizado e haja esperanças que os jovens estudantes japoneses estejam mais acostumados com os colegas que retornaram do exterior. O artigo escrito por Ashley Thompson trata do mesmíssimo assunto, mostrando que nada ou pouco mudou neste aspecto.

É evidente que nas escolas brasileiras, como na maioria dos países do mundo, os alunos gozam de maior liberdade, como de perguntar aos professores sobre as suas dúvidas em classe. Os estudantes japoneses não expressam suas questões, e acabam achando que os que adquiriram estes hábitos estão procurando “aparecer” entre seus colegas, e acabam sofrendo o tal “ijime” ainda hoje, segundo o artigo.

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Muitos japoneses foram “expatriados” para trabalhar nas suas empresas no exterior, e tiveram que levar os seus familiares, inclusive filhos, estudando em variadas escolas, como as especializadas em estrangeiros em muitos países (normalmente, escolas norte-americanas). Poucos preferiram as escolas locais, como nos Estados Unidos, acabando por aprender o inglês sem sotaques. Quando retornam ao Japão, seus colegas notam as diferenças acabando por discriminar muitos deles.

O inverso também ocorre, mas em menor grau. Famílias de brasileiros que moraram no exterior, cujos filhos retornaram ao Brasil, apresentam dificuldades de adaptação, notadamente nos idiomas. O mesmo ocorre com filhos de diplomatas ou de funcionários de organizações internacionais que atuam em diversos lugares do mundo.

Quando os pais, em função dos encargos que recebem, são obrigados a residir em diferentes países, corre-se o risco dos adolescentes perderam parte de sua identidade, pois muitos necessitam ter claro onde estão suas raízes. Mesmo dominando mais que um idioma e conhecendo culturas diferentes, alguns acabam enfrentando dificuldades na sua volta ao país de origem.

No caso do Japão, possivelmente por se tratar de um arquipélago, com uma cultura muito particular, estes ajustamentos tendem a ser mais complexos. Principalmente diante da rigidez dos seus sistemas educacionais e comportamentos grupais entre os alunos.

Quando existem outros fatores de diferenciação, como serem filhos de casamentos de pais de diferentes etnias, parece que estes ajustamentos acabam sendo mais difíceis, mesmo que eles dominem o idioma sem sotaques.

Em países que receberam muitos imigrantes, onde existe uma forte miscigenação étnica e cultural como o Brasil, estas dificuldades parecem menores, pois há muitos jovens que apresentam características diferentes. No caso japonês, relativamente, as misturas étnicas são ainda baixas.

Com a crescente globalização em marcha, espera-se que tais problemas acabem sendo minorados até no Japão. Como expressou-se um amigo que viveu longos períodos no exterior, a grande diferença que notou na sua volta à sua pátria foi o elevado número de estrangeiros que passaram a morar nos arredores de sua residência.

No fundo, a mudança dos hábitos culturais acaba sendo mais lenta, mas será inevitável. O que se espera é que as dificuldades de adaptação imponham menos sofrimentos a estes jovens.


2 Comentários para “Dificuldades nas Mudanças Culturais Até dos Adolescentes”

  1. Alexandre
    1  escreveu às 13:08 em 24 de janeiro de 2012:

    Yokota sensei, o seu post destaca um tema muito importante. Sinto que sistemas educacionais acabam mesmo instigando alunos ao preconceito ao defender e estimular determinados valores. Acho que é hora de repensar a Educação, afinal, o mundo já mudou muito.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 17:20 em 24 de janeiro de 2012:

    Caro Alexandre,

    Muitos sistemas educacionais continuam se aperfeiçoando e se abrindo para o mundo. Alguns apresentam algumas resistências compreensíveis, mas que devem ser evitadas.

    Paulo Yokota


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