Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Oito Mil Anos da Atual Istambul

8 de junho de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Depoimentos | Tags: , ,

etkinlik-sergi-bizantion-ist-sergi-212_ Uma exposição imperdível acontece em Istambul, no Museu Sakip Sabanci da Universidade de mesmo nome desta família. Ela conta com mais de 500 obras excepcionais reunidas em todo o mundo, de 59 museus de 17 países, sendo 19 instituições da Turquia. Faz parte do chamado “Istambul 2010 – Capital Europeia da Cultura”. Inclui desde os que foram descobertos pelos arqueólogos, do período neolítico até hoje, que se encontram em Portugal até a Rússia, da Irlanda até o Catar. Já vi muita coisa boa mundo afora, mas com esta o meu queixo continua caído.

A cidade de Bizâncio, que passou por ocupações dos persas, dos gregos e troianos, transformou-se na capital do Império Bizantino, chamando-se Constantinopla, capital de Roma do Oriente, quando os romanos foram divididos em duas metades. Os bizantinos e romanos deixaram importantes marcas que ainda existem. Com a queda dos romanos, o Império Otomano durou sete séculos. Seu território expandiu-se e contraiu-se ao longo do tempo. Incluiu a Síria e o Líbano. Outras importantes etnias da região perderam seus países, como os armênios e os curdos. Ainda vamos postar mais coisas sobre esta exposição.

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Sonhos e Nostalgias Com Xangai

7 de junho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , ,

Anos 1960-1976: sob a doutrina do Pensamento de Mao, Xangai, como outras metrópoles chinesas, teve grande parte da sua população desalojada e enviada para zonas rurais do vasto interior chinês, para aprender com os camponeses. Famílias estabelecidas tiveram suas propriedades confiscadas nas cidades, como relatam as escritoras Xinran e Jung Chang. Outras foram para os campos por livre e espontânea vontade. Perseguindo o ideal marxista/maoísta, os chineses abraçaram a causa comunista experimentado os valores da vida comunitária rural, de igualdade e justiça social. Jovens mães deixaram filhos aos cuidados do Estado ou dos avós. Como no caso das mães das duas escritoras.

O rápido desenvolvimento industrial e a ascensão econômica global da China a partir de 1980 trariam de volta o êxodo dos campos para as cidades. Xangai, então hub da região que mais crescia, no delta do poderoso Yangtsé, era a que mais seduzia jovens em busca de oportunidades.

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Vista parcial de Xangai à noite e cartaz de divulgação do filme Shanghai Dreams

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Nanjing, Capital do Sul

27 de maio de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , ,

Encruzilhada para aventureiros e descobridores, poetas e artistas, imperadores e revolucionários, Nanjing foi desde sempre o berço da cultura chinesa, aclamada como um das cidades mais bonitas da Terra.

Para o jornalista John Pomfret (Caminhos da China), Nanjing é o lugar “aonde os chineses tradicionalmente iam para lamber suas feridas”, em alusão às muitas vezes em que a cidade acolheu imperadores e súditos fugindo de bárbaros e invasores que saqueavam o Norte do país. Foi assim nos tempos medievais: capital de seis dinastias, quando tribos nômades vindos por trás da Muralha ocuparam o país.

Já no século XIV, Nanjing teve seus tempos áureos quando a Dinastia Ming ali edificou a capital (1368-1421). Hongwu, o primeiro imperador dessa dinastia, ergueu suntuoso palácio protegido por monumentais muralhas. Das muralhas, 70% ainda permanecem. Do palácio, ruínas lembram sua majestade.

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Yangtsé, Amarelo, Mekong: Grandes Rios da China (II)

14 de maio de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , ,

Relata Simon Winchester que um dos planos do historiador Joseph Needham, alojado na cidade de Chongqing para fazer suas pesquisas, era justamente observar a estrutura projetada por Li Bing para conter o ímpeto do Rio Min e que há tantos séculos vinha controlando as águas que se precipitavam de uma escarpa em vertiginosa velocidade. Ele se espantou e se maravilhou com mais esta proeza hercúlea dos chineses. Para Needham, isso se igualava às obras da Grande Muralha e às da construção do Grande Canal, ambas realizadas há 2.000 anos.

Needham não testemunharia o que viria, de fato, a ser feito de hercúleo nos anos vindouros na tentativa não só de domesticação dos rios, como também para fazer face ao espetacular desenvolvimento que vinha demandando cada vez mais a necessidade de maiores recursos hídricos e hidrelétricos. Por exemplo, a construção da gigantesca Usina das Três Gargantas, no Rio Yangtsé, finalizada em 2009, considerado o maior projeto de construção na China desde a Grande Muralha, e que tiraria da Usina de Itaipu o título de maior hidrelétrica do mundo. E de outros quase 80 projetos chineses de hidrelétricas com canais, eclusas, diques, barragens de contenção e explosões de correnteza, que estão atualmente em várias etapas de preparação e construção, em todos os grandes rios da China. Todos eles visando a prevenção de enchentes, geração de energia e transporte fluvial.

Tudo isso, claro, causa milhares de perdas, transtornos, controvérsias e protestos, senão alguns desastres. Segundo o jornalista Thomas Fuller, do The New York Times, em artigo no suplemento da Folha de S.Paulo (12/abril/2010), os países ao longo do Rio Mekong culpam a China e não a natureza quando acontecem episódios de seca devastadora na região como recentemente – acusam os chineses de estarem “sequestrando” as águas dos rios. Apesar de, neste episódio, sólidas evidências científicas levarem a crer que realmente o baixo nível das chuvas fora responsável pela redução dos níveis do rio.

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Yangtsé, Amarelo, Mekong: Grandes Rios da China

6 de maio de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , , , , | 10 Comentários »

Xangai – “acima do mar”, sobre águas – fica à beira do Mar Oriental da China, junto ao imenso delta e foz do Rio Yangtsé (no qual está sendo construída a gigantesca Usina de Três Gargantas), e à margem de um afluente deste, o Rio Huangpu. A 300 quilômetros de distância rio acima, na cabeceira do delta, ergue-se soberana e bela a antiga cidade imperial, Nanjing – “Capital do Sul”. E muitas outras grandes metrópoles compõem este mega pólo comercial, industrial, econômico e cultural que rivaliza com outro influente pólo, a da capital Beijing – “Capital do Norte” – a 1.400 quilômetros, próximo de onde deságua o Rio Amarelo, o segundo maior rio da China.

Quando atinge Nanjing, o Yangtsé, o maior e mais extenso rio chinês, já percorreu 6.000 quilômetros desde as suas nascentes no maciço de Kunlun, no Planalto Tibetano, província de Qinghai. Coincidentemente, dois outros grandes e importantes rios chineses, o Mekong (Lacang) e o já citado Amarelo (Huang He), nascem na mesma região de Qinghai, próximo do Himalaia, recentemente abalada por um sismo de 6.9º Richter.

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O Que é Bom Permanece

26 de abril de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Depoimentos | Tags: , , , | 2 Comentários »

Há mais de 40 anos, em 1967, percorria com um grupo de amigos brasileiros as ruas de Quioto à noite, onde havia uma concentração de bares, quando ouvimos alguém cantando uma música brasileira. Era “Só danço samba…” e, por curiosidade, entramos no bar de onde vinha aquele som familiar. Perguntamos ao cantor como tinha aprendido aquela música que cantava em português e, para surpresa nossa, ele pensava estar cantando em inglês, imitando Sérgio Mendes.

Hoje, tive o privilégio de assistir a um show de Edu Lobo que, além das novas criações, contou a história da origem e cantou canções como as que ele tinha composto para o Teatro de Arena, portanto, há mais de 40 anos. Edu Lobo continua excepcional, como o bom vinho que envelhece, e isto me trouxe muitas gratas lembranças de quanto os asiáticos, notadamente os japoneses, apreciam a boa Música Popular Brasileira. A turnê faz parte do lançamento do seu novo CD.

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Nara Leão e Edu Lobo

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Refúgio Nas Religiões

15 de abril de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , | 4 Comentários »

O jornalista John Pomfret, em Caminhos da China, Ed. Landiscape relata que os jovens universitários chineses na década de 1980 desconfiavam de qualquer tipo de fé: eles estavam saindo de uma doutrinação radical cujo culto fora a Revolução Cultural. Mas depois da abertura pós-Deng Xiaoping, seguida por nova e dura repressão após 4 de junho de 1989 (Tiananmen), já não sabiam em que acreditar. A sociedade chinesa perdia suas referências espirituais. E invejavam agora aqueles que tinham uma fé.

O colapso do comunismo como ideologia levou milhões de chineses a procurarem algo em que se apoiar. Cada vez mais os chineses se voltavam para cultivar o nacionalismo, ou alguma religião. Muitos faziam as adorações escondidos, pois a repressão do governo era severa a qualquer culto sem a autorização do partido.

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Minha Experiência Num Mosteiro do Japão

28 de março de 2010
Por: Monja Coen | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , | 2 Comentários »

coen123 Hoje, fiquei muito feliz em poder participar deste encontro aqui no Pavilhão Japonês, no Parque Ibirapuera. Agradeço profundamente pelo convite que me fizeram para falar um pouco sobre o Zen Budismo. Ao chegar aqui, muitas doces memórias foram ativadas! Primeiro, a Cerimônia do Chá.  Todas às quartas-feiras, a reverenda Kurigi Roshi vinha nos dar aula de chá, no mosteiro onde pratiquei por oito anos seguidos.

Eram momentos mágicos.  Sem palavras.  O fluir com o fluxo da vida.  Silêncio.  Movimentos simples e precisos. Nada extra.  A Cerimônia do Chá se iniciou com os monges e monjas Zen Budistas.  A partir das ofertas que faziam nos altares.

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Sobre Concubinas e Favoritas

26 de março de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , , , ,

Observação do responsável pelo site: este depoimento foi elaborado para o Dia das Mulheres e, por falha técnica, não foi publicado na ocasião.

Concubinatos, ou esposas secundárias, ou amantes, foram tradições recorrentes, como fatos institucionalizados, nas cortes e aristocracias de todas as civilizações ao longo da História, do Extremo Oriente, passando pelo Oriente Médio, à Europa Central: nas mil e uma noites da Arábia, na austera Albion dos Tudors, no Sacro Império Romano-Germânico dos Habsburgos, na esplendorosa corte da França dos Valois e dos Bourbons. Séculos XIV – XVIII.

No Japão, há a dramática história de Tokiwa Gozen, de decantada beleza, esposa de Minamoto no Yoshitomo. Após o assassinato deste pelo rival Taira no Kiyomori, para salvar a pele e a dos três filhos (um deles, Yoshitsune), se sujeita à sedução do arquirrival do morto, tornando-se sua concubina. Este episódio daria continuidade a outros eventos interligados que iriam mudar a história do Japão, culminando na lendária batalha de Danno-ura: sob a liderança adversária e carismática de Minamoto no Yoshitsune (na juventude conhecido como Ushiwaka-maru, imbatível nas artes marciais), os Taira (Clã Heike) são dizimados, ascendem os Minamoto (Clã Guenji): começa a era dos bakufu (xogunato), samurais no poder. Século XII.

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Ásia e América Latina

11 de março de 2010
Por: Monja Coen | Seção: Depoimentos | Tags: , , , ,

coen123 Morei durante doze anos no Japão, a maior parte do tempo em mosteiros e templos Zen Budistas. Muitas vezes me perguntava sobre o que estaria aprendendo e o que poderia trazer de volta ao Brasil. Eram muitas as diferenças culturais, econômicas, sociais.

Sim, somos todos seres humanos. Homens e mulheres convivendo e descobrindo se há sentido ou não neste viver. Entretanto, desde a infância, a idéia do coletivo, da coletividade é acentuada na Ásia.

Talvez por serem países tão populosos. Deve também haver inúmeras outras razões. Entretanto, a ênfase no coletivo me fascinava. O não-eu. Desde pequena, meu pai me admoestava:

“Não seja como os carneirinhos de Panúrgio” – uma história antiga de carneirinhos que seguem uns aos outros e acabam se afogando.

A idéia principal era não seguir a ninguém. Abrir seu próprio caminho. Não copiar os outros. Desenvolver a identidade pessoal separada da coletiva.

As crianças, na Ásia, são educadas a serem umas como as outras. Ser diferente é quase um crime. Pensar no bem coletivo antes do bem individual – esta é uma arte a ser apreendida.

Crianças também aprendem a amar e respeitar a natureza, apreciar as flores, as nuvens, a lua, as estrelas. Escrever poesias, contar histórias de insetos, de plantas, de terra. Claro que ensinamos isso também às nossas crianças latino-americanas.

Mas será que as ensinamos a amar a terra e cuidar da terra e de todos os seres? Será que as ensinamos a se sentirem ligadas e sensíveis às necessidades dos outros? Será que as ensinamos a servir em vez de serem servidas? Será que as ensinamos a desenvolver o olhar que percebe a necessidade do outro antes mesmo que o outro assim proclame?

No Japão, há uma expressão que aprecio muito: é preciso ter “Kokoro” (ou côcôrô). Essa palavra significa coração ou mente ou espírito. Na verdade, quer dizer sensibilidade aguçada. Capacidade de sentir e fazer o que é adequado a cada circunstância. Uma adequação que vai além do próprio eu.

Por isso, a noção do não-eu. Manifesta-se em coisas pequenas. É perceptível ao andar, sentar-se, comer, levantar-se, beber, deitar-se. Em cada gesto, em cada movimento, em cada palavra e em cada pensamento podemos reconhecer alguém cujo “kokoro” foi trabalhado, desenvolvido, treinado, educado.

Assim, educar pessoas seria educar, treinar essa essência, essa sensibilidade, esse “kokoro”. O resto, naturalmente, se manifesta. Ler, escrever, somar, multiplicar, desenhar, todas as ciências estariam vinculadas ao desenvolvimento do “kokoro” em um ser humano.

Por isso, quando voltei da Ásia para o Brasil meu sonho era e ainda é o de ser capaz de treinar, educar o meu, o seu, o nosso capital de sensibilidade aguçada, nosso capital humano de ternura e cuidado. Para podermos crescer unidos no sentimento comum de fazer o bem a todos os seres.

Mãos em prece