Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ichi-go, Ichi-e: Momento Único do Encontro de Uma Vida

23 de setembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , | 10 Comentários »

ichigo Aglutinando ideogramas diferentes, a língua japonesa tem a peculiaridade de construir frases sintéticas densas, com profundo sentido inerente à cultura e ao espírito japonês. Como a expressão “ichi-go, ichi-e”, que transmite um ideal estético ligado aos conceitos zen-budistas e à consciência da transitoriedade das coisas. Literalmente significando “um momento, um encontro”, sua conotação, porém, tem nuances e implicações que transcendem explicações ou traduções.

Regidos por estações de ano bem definidas em que a natureza cambiante faz o mundo flutuar numa constante mutação de temperatura, sons, cores, aromas e gostos, os japoneses tentam se apegar ao efêmero, procurando usufruir ao máximo o que cada estação oferece ao tato, aos olhos e ouvidos, ao olfato e paladar. Ichi-go, ichi-e traz à consciência a proposição de viver ao máximo cada dia, hora, minuto e segundo. Fazer de cada momento um encontro único para ser vivido bem e intensamente.

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O Sabor do “Wagashi” na Cultura Nipo-Brasileira

15 de setembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , , | 1 Comentário »

O Projeto Saberes dos Sabores, da Fundação Japão-SP, nos trouxe recentemente a chef pâtissier Cristina Makibuchi falando sobre wagashi – confeitaria japonesa, na qual se aperfeiçoou em Fukui, Japão – e sobre yôgashi – confeitaria ocidental, cuja técnica aprimorou nas escolas Lenôtre e Le Cordon Bleu, em Paris. E Paulo Yokota tece também saborosos comentários sobre doces japoneses, aqui no site (02/09/2010). Como poderia a nossa memória olfato-palatal-visual não despertar em busca do doce sabor nunca perdido da nossa infância?

A particularidade do doce japonês é a sua doçura suave, que não agride o paladar nem os dentes. Cristina Makibuchi teve que reeducar seu paladar para o sabor doce, quando voltou do Japão, e começou a confeccionar doces e bolos ocidentais em São Paulo. Clientes reclamavam por seus doces não serem suficientemente doces. Ela redirecionou a “doçura”, mas seus produtos continuam bastante “sugar luz”.

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Lori Matsukawa, a Voz Nikkey de Seattle, Washington

23 de agosto de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , | 2 Comentários »

Lori Matsukawa Por iniciativa do escritório da Fundação Japão de Nova Iorque, a jornalista nipo-americana Lori Matsukawa está visitando o Brasil, ministrando palestras em várias cidades. Falando sobre o tema “O papel da mídia no convívio multicultural”, Ms. Matsukawa aborda o racismo, direitos civis e a questão da identidade da comunidade asiática na América do Norte. Na cidade de São Paulo, a palestra, seguida de debate, teve mediação do professor Sedi Hirano (pró-reitor de Cultura, USP), e participação dos professores Adriana C. de Oliveira (Univ. Federal do ABC) e Eugênio Bucci (ECA / IEA, USP) e do jornalista Jorge J. Okubaro (editorial, jornal “O Estado de S.Paulo”).

Ms. Matsukawa falou brevemente do histórico dos primeiros imigrantes japoneses nos Estados Unidos, de seus pais em Havaí e depois em Seattle. As conversações sobre a imigração começaram em 1860, e a primeira leva de imigrantes aportou em 1880, 18 anos antes da imigração japonesa para o Brasil. A integração dos japoneses dentro da sociedade americana foi profundamente afetada pela II Guerra. Além do mais, segundo a jornalista, a própria cultura americana impelia a um forte grau de racismo, pois exclusão e discriminação por motivos raciais eram fatos perfeitamente legais. Imigrantes não podiam registrar bens imóveis em seus nomes nem obter, até 1952, nacionalidade americana.

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Um Professor de Geografia, Cearense de Sobral

30 de julho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: | 2 Comentários »

Dissertações elucidativas e didáticas do economista Paulo Yokota sobre regiões norte-nordeste do Brasil que vêm sendo publicadas neste site, resgatam remotas aulas de Geografia, de gratas lembranças.

Adamantina, cidade a oeste do estado de São Paulo, anos 50, contava no nível ginasial – além de dois colégios particulares – com um ginásio estadual, cujo exame de admissão era bastante rigoroso. Atraía estudantes até de cidades vizinhas pela fama do excelente corpo docente e pela qualidade do ensino. Uma grande porcentagem de seus alunos era filhos de imigrantes japoneses.

Entre professores que marcaram nossa adolescência, destacava-se um advogado e sociólogo de ilustre estirpe de políticos cearenses, de quem nunca soubemos como fora parar naqueles confins paulistas. Olhos perscrutadores, sério e sisudo, o professor José Euclides Ferreira Gomes Júnior intimidava à primeira vista. Mas atrás daquele olhar penetrante se escondia um homem afável, reservado, um poço de cultura e muito carisma. A política era o seu assunto predileto. Seria eleito vereador na cidade, e foi combativo líder da câmara adamantinense.

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Professor José Euclides Ferreira Gomes Júnior. Assinando o livro de posse como prefeito de Sobral

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Convivendo Com Altas Temperaturas e Umidades

26 de julho de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Depoimentos | Tags: , , ,

O noticiário internacional está repleto de noticias sobre as altas temperaturas registradas no hemisfério norte, notadamente na Ásia. Muitas estão acompanhadas por elevadas umidades, principalmente nas cidades litorâneas como Tóquio e Xangai. Até um brasileiro, que vive numa região tropical, acaba estranhando este fenômeno que se prolonga por muito tempo, antecipando o período mais violento do verão que costumava ser em agosto. Acaba provocando até mortes, em quantidades expressivas, principalmente de idosos, pois as crianças estão mais assistidas pelos seus responsáveis, com uma hidratação adequada.

Além da falta de uma ventilação, a sensação de calor acaba sendo agravada pelo aquecimento do asfalto e dos prédios onde predomina o cimento. Como existe um controle do consumo de energia, mesmo nos locais que contam com ar-condicionado, existe um limite de temperatura mínima, principalmente nos ambientes que recebem multidões como as estações de metrô, nos edifícios, inclusive nos hotéis. Tudo isto acaba provocando uma letargia, estimulando as pessoas a se manterem resguardadas.

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Sombrinhas são indispensáveis no calor japonês

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Brumas de Chongqing

10 de julho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , ,

Distante 2.400 km de Xangai, rio acima, localizada na península formada pela confluência do intrépido rio Jialin com o poderoso Yangtsé, a cidade de Chongqing marca a passagem do Leste para o Oeste, no coração do continente chinês. Sua posição estratégica, às margens do grande rio e entre as províncias de Sichuan e de Hubei, a fez importante porto fluvial desde tempos imemoriais, escoadouro dos produtos da fértil região, celeiro da China. Durante a II Guerra, foi lá que o governo nacionalista de Chiang Kai-shek buscou abrigar-se dos bombardeios japoneses. Universidades e indústrias do leste também foram transferidas então para Chongqing. Em 1949, com a proclamação da República Popular da China, os nacionalistas se retiraram para Taiwan. O governo de Mao Tsé-tung continuou, porém, a incentivar indústrias a se instalarem em Chongqing, num grande movimento de marcha para o Oeste.

A construção e a recente finalização da usina das Três Gargantas, aliada à complementação de barragens e de projetos de irrigação, tornaram o rio Yangtsé seguramente mais navegável e regularizado contra os problemas de enchentes e inundações. Navios de razoável calado vão e vêm entre Chongqing e o Delta, no Mar Oriental da China, trazendo e escoando produtos. Para melhor coordenar os projetos da Usina, a cidade tinha sido elevada à categoria de Municipalidade Autônoma, em 1997. Chongqing se tornou, desde então, o maior município do mundo, ocupando todo o Leste da província de Sichuan, com 32 milhões de habitantes em todo o seu entorno (os outros municípios autônomos são Beijing, Tianjin e Xangai).

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Vista aérea do Centro de Chingqing – Foto: Galeria de lalatinlala

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Jabulanis e Outras Bolas

1 de julho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , ,

1950. Para os fanáticos do pé-de-bola, ano fatal. Naqueles tempos, bola de futebol para peladas ainda era feita de couro legítimo, com uma câmara-de-ar de borracha, interna, e tinha uma válvula. Como um pneu. De tempos em tempos, era preciso enchê-la de ar com uma bombinha. A câmara-de-ar podia ser trocada quando ficava gasta e frouxa ou se, por algum acidente, furasse. A bola de couro tinha uma abertura com ilhoses e fivela, como num tênis, para retirar e colocar a câmara, popularmente chamada de bexiga. Os gomos de couro vinham costurados com fios grossos, aparentes.

Era uma bola pesada e macia ao mesmo tempo, e não machucava o pé. Mesmo depois de muito usada, conservava o cheiro de couro. Ficava cinzenta quando a pintura branca ia se desgastando. Para conservá-la, os meninos derretiam sebo de boi e hidratavam os gomos com um pano, cuidadosa e pacientemente. Pois bolas de futebol eram muito caras então, de couro legítimo, feitas quase artesanalmente. Para garotos em geral, tratava-se de objeto de desejo raramente conquistado. Às meninas, só nos era permitido observar de longe, sem tocar, que dava azar.

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Beijing – Capital do Norte

23 de junho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , ,

Sucessivamente, capitais das antigas dinastias chinesas, as cidades de Xian, Luoyang, Kaifeng, Hangzhou e Nanking seriam finalmente substituídas por Da Du ou Yen Tu, posteriormente denominada Pequim, atual Beijing. Kublai Khan, neto de Genghis Khan, ao fundar a dinastia Yuan de etnia mongol, unificou o vasto império chinês e manteve duas capitais: Yen Tu ou Pequim, ao Norte da China, e Shang Tu ou Xanadu, na Mongólia, fortalecendo o seu poder (1279 – 1368).

No fim do século XIV, ao já enfraquecido império mongol Yuan, sucedeu a dinastia Ming (1368 – 1644), que teve seus primeiros tempos de reinado estabelecido em Nanking (Nanjing). Em 1421, o terceiro imperador Ming, Yongle, mudaria definitivamente a capital para Pequim. Para isso construíra a cidade imperial baseada nos padrões de planejamento urbano chinês tradicional: no centro, o imenso complexo palaciano da Cidade Proibida – assim chamada por ser interditada aos mortais comuns. Rodeada por grandes parques abertos e por hutongs, estreitos e sinuosas ruelas entremeadas de palacetes residenciais com pátios internos. A cidade foi cortada por amplas avenidas e foi toda murada, oferecendo cerco e proteção. Para melhor salvaguardar Pequim, a Grande Muralha foi reforçada e ampliada, e recoberta de tijolos.

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Centro financeiro de Pequim

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Imigração Japonesa no Brasil e Medicina Preventiva

16 de junho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , | 3 Comentários »

Assinados os acordos do Tratado de Amizade e Comércio Brasil-Japão (1895), os entendimentos levariam a uma relação de profícuo intercâmbio entre os dois países e culminaram com o início da imigração japonesa no Brasil (1908). Uma vez concretizada a chegada dos imigrantes, além dos muitos problemas concernentes, o que mais preocupava líderes japoneses era a quase inexistência de assistência médica aos imigrantes tanto na Capital como no Interior. Muitos imigrantes morriam à mercê da falta de assistência médica, de orientação sanitária, por ignorância mesmo. Epidemias de malária, tracoma, leishmaniose (úlcera de Bauru) e ancilostomíase (amarelão) grassavam pelo Interior.

Em 9 de outubro de 1926, num pequeno prédio da Avenida Liberdade, 66, na cidade de São Paulo, um grupo de japoneses imbuídos de um mesmo sentimento de solidariedade, preocupados com os destinos desses imigrantes, reuniu-se para fundar uma associação de amparo fraterno. A Dojinkai – Sociedade Japonesa de Beneficência do Brasil, com estatutos e regulamentos devidamente registrados. A primeira Diretoria eleita nessa Assembleia teve como diretor-presidente o Sr.Yonosuke Yamada, e diretor-gerente o Dr.Sentaro Takaoka. O então embaixador do Japão no Brasil, Sr.Akira Arioshi, logo se tornaria sócio.

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Doutores Sentaro Takaoka e Shizuo Hosoe

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De Comidas, Sabores e Odores

11 de junho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , | 2 Comentários »

“Por que tem gente que odeia tanto o coentro?” pergunta Harold McGee, do New York Times, suplemento da Folha de S.Paulo, 17/05/2010. “Por que tanta gente ama o coentro?” replicaríamos nós.

Hoje em dia, o coentro é erva fina da culinária do Nordeste brasileiro, da Ásia, de Portugal, da Espanha, do Peru e alhures. Estudos indicam que predisposição genética pode explicar a rejeição. Ou, simplesmente, talvez seja falta de aventura e boa vontade que nos faz rejeitar de cara certos sabores e odores de comidas que não nos são familiares.

Na verdade, diz-se que o coentro lembra o sabor de sabão para algumas pessoas (que já lamberam sabão?). Para outras, suscita o aroma de roupa de cama infestada de… percevejos. Não sem razão. Segundo Harold McGee, quimicamente, o coentro é composto de fragmentos de moléculas chamados aldeídos, do mesmo tipo dos encontrados em sabões e loções, e em insetos da família de percevejos. Argh!!

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Ceviche de corvina e coentro in natura

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