Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Regulamentação na Exploração do Xisto

24 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no Bloomberg, Colorado inicia a regulamentação da exploração do xisto, controle de qualidade do ar no Colorado

Tradicionalmente, nos Estados Unidos, começa a ocupação como do Far West para depois chegar o xerife. No site da Bloomberg, Jennifer Oldham publica um artigo informando de um entendimento pioneiro no Estado do Colorado para uma coalizão das empresas de exploração do petróleo e gás do xisto, mediante o emprego da tecnologia do chamado fracking, com ambientalistas para estabelecer uma regulamentação visando combater o agravamento da poluição. Os maiores produtores do Estado, como a Anadarko Petroleum, Noble Energy e Encana trabalharam com o Fundo de Defesa Ambiental para obter a regulamentação da Comissão de Controle de Qualidade do Ar do Colorado, que corrigiria os vazamentos persistentes de tanques e tubulações nestas explorações.

As emissões provenientes da exploração contribuem para a poluição atmosférica excedendo as diretrizes federais para o lançamento de ozônio prejudicando as Montanhas Rochosas. Inclui o metano que causa o efeito estufa, provocando a mudança do clima. A neblina criada levou o governador John Hickenlooper a pedir para as empresas e ambientalistas elaborarem as regras para o seu disciplinamento. Alguns entendem que isto servirá de modelo para o país, mas outros atribuem intenções eleitorais. As perfurações dos Estados de Colorado, Dakota do Norte, Montana, Pensilvânia e Ohio estão se aproximando mais das comunidades, forçando regulamentações para atender as queixas crescentes de ruídos, tráfegos e riscos das contaminações do ar e da água, havendo onde se estabeleceram restrições às técnicas de perfuração horizontais conhecidas como fracking.

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Lições do Uso da Energia e das Águas

24 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: além dos lamentos das ineficiências constatadas, aperfeiçoamentos possíveis, lições da experiência

Entre os diversos setores onde o desempenho brasileiro recente tem sido criticado e lamentado estão os relacionados com a energia e o aproveitamento das águas, que acabam ficando parcialmente ligados. Além do lamento das dificuldades constatadas, parecem que lições possam ser retiradas para se obter resultados mais confortáveis no futuro. Um artigo publicado por Keith Johnson no Foreign Policy refere-se aos problemas energéticos do governo brasileiro informando o Brasil pode estar se transformando numa piada, sempre sobre o país do futuro que está demorando a chegar. O pré-sal aparentava ser extremamente promissor, mas, com os atrasos que estão se verificando, está se transformando num problema, com os brasileiros contando os seus ovos antes da galinha tê-los botado, notadamente com a atual revolução da exploração do xisto que está reduzindo seus custos.

No passado mais longínquo, quando se planejou o sistema energético da região Centro Sul do Brasil, pensava-se no prazo de décadas, objetivando o melhor aproveitamento das águas disponíveis na bacia do Paraná – Uruguai, adaptando a tecnologia utilizada no TVA – Tennesseee Valley Authority. Além do aproveitamento hidroelétrico, pensava-se em todas as demais possibilidades, como navegação fluvial, irrigação, abastecimento da água potável para a população, piscicultura, turismo etc. Com muitas autoridades atuais considerando-se especialistas no setor, estamos colhendo resultados preocupantes. Não se pode negar que o setor foi sacrificado para conseguir resultados inflacionários mais favoráveis, que acabam resultando em dificuldades maiores quando considerados no prazo mais longo.

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G-20 Estaria Sendo Esvaziado?

20 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: as decisões isoladas dos países desenvolvidos, dificuldades de entrosamento dos emergentes, problemas na governança mundial em tempos de crise, próxima reunião do G-20

Ainda que o mundo esteja se tornando mais complexo, com uma recuperação mais lenta dos países desenvolvidos, uma desaceleração do crescimento das economias emergentes além das expectativas, parece lamentável que decisões cruciais para todos estejam sendo tomadas com prioridade absoluta para os problemas internos de cada país sem considerar seus impactos no resto do mundo. O site da Bloomberg publica um artigo elaborado por Simon Kennedy, Sharmim Adam e Jeff Kears informando que a competente nova presidenta do FED – Sistema Federal de Reservas dos Estados Unidos, Janet Yellen, comparecerá na reunião do G-20 informando que estará empenhada na recuperação da economia norte-americana, que mais vigorosa estará ajudando a todos. Os norte-americanos, com a easing monetary policy, inundaram o mundo com dólares, provocando a desvalorização do dólar, que corresponde às valorizações das demais moedas, prejudicando suas contas comerciais externas. Na medida em que começa a reduzir este substancioso incentivo monetário, provoca críticas como os da Índia e da Turquia que enfrentam dificuldades para os financiamentos de suas necessidades.

O argumento de Janet Yellen é que se todos estivessem executando as políticas corretas, com as reformas indispensáveis, estas medidas norte-americanas poderiam ser neutralizadas sem maiores problemas, com as variações cambiais, o que não é uma realidade tão definitiva. Muitos países emergentes não poderiam colocar restrições unilaterais restritos aos influxos dos recursos externos, acabando por valorizar seus câmbios, que não foram neutralizados por reformas que mantivessem sua competitividade. Agora, quando o problema começa a se reverter e de forma brusca, com a agravante das atuações do sistema bancário internacional, as desvalorizações são violentas, criando problemas das pressões inflacionárias, além da elevação dos juros para conseguirem financiamentos externos. Ela tem razão que muitos países não conseguiram cuidar adequadamente dos seus problemas fiscais, que não ajudam o quadro geral, exageradamente dependente da política monetária. Como no Brasil.

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Novos Avanços Nas Roupas Tecnológicas Baratas

20 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: conexões com a telecomunicação, Heattech da Fast Retailing, novos avanços tecnológicos em a Toray e a NTT, série de informações de saúde

Já sou usuários das roupas práticas e baratas vendidas pela Fast Retailing na sua rede mundial Uniqlo há décadas e que teve um avanço significativo com a sua linha Heattech, que proporciona uma redução de temperatura estimada em 30% no verão, e uma elevação do mesmo percentual no inverno. Ainda que as estações do ano sejam invertidas nos hemisférios norte e sul, exigindo uma defasagem de seis meses no Brasil com relação ao Japão. Agora, o Nikkei Asian Review publica um artigo redigido por Hideki Hayashi informando que novos avanços tecnológicos estão em andamento, numa cooperação da Toray Industries, que produz as fibras sintéticas utilizadas no Heattech, com a NTT, a maior organização japonesa de telecomunicações. Desenvolveu-se uma camisa com um sensor que transmite dados biológicos, como frequências cardíacas, para serem usados por esportistas e os que apresentam problemas de saúde que precisam ser acompanhados.

A nova camisa inteligente usa o novo material batizado hitoe, que significa uma camada, e o autor do artigo experimentou-a, sendo mais fina que o esperado e não desconfortável. A camisa tem uma espécie de mancha do tamanho de um cartão de crédito não sendo invasivo, pois a roupa é feita com fibra elástica que permite o movimento fácil do corpo. O material utilizado contém hitoe, que é uma nanofibra de poliéster revestida com resina de polímero altamente condutivo. Colada à pele, o material permite a medição precisa dos dados de saúde, mesmo com o suor. Usando um smartphone com um aplicativo específico, o jornalista obteve os dados de um eletrocardiograma bem como a frequência cardíaca, tudo transmitido sem fio. Pedalando uma bicicleta, observou o aumento dos seus batimentos cardíacos. Os pesquisadores informam que outros dados como ondas cerebrais poderão ser transmitidos brevemente.

KazuNikk

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O Budismo na Rússia

20 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: capital da Sibéria Oriental, centrados em Ulan-Ude, chegaram no Século VIII, hoje são cerca de 150 mil, presença budista na Rússia, quase 150 templos menores e 30 datsans (templos maiores monásticos)

Uma notícia pouco conhecida foi divulgada pela Gazeta Russa, distribuída como um suplemento da Folha de S.Paulo, informando sobre a presença de budistas na Rússia, precisamente na Sibéria Oriental, tendo como centro a capital Ulan-Ude. Lá chegaram no século VIII e hoje são estimados em 150 mil, possuindo 150 templos menores e 30 datsans, que são maiores e monásticos, funcionando como universidade. Evidentemente, esta parte da Sibéria faz fronteira com a Mongólia, ao norte da China, e as fronteiras da época variaram ao longo do tempo, pois na época do Gengis Khan o império mongol estendia-se do Pacífico até os limites da atual Europa, ocupando praticamente toda a Ásia.

O templo principal é o datsan Ivolguinski, construído em 1945, e haveria conexão com o Dashi-Dorjo Itiguilov, o 12º Pandido Khambo Lama, líder budista russo do início do século XX e seguidor próximo do 14º Dalai Lama, segundo o artigo. Sua morte teria ocorrido logo depois de 1927, e ele teria pedido aos monges que visitassem o seu corpo depois de 30 anos. Ficando em posição de lótus, teria começado a meditar e morreu. Em 1973 foi exumado e ao ser examinado constatou-se que suas articulações permaneciam flexíveis e sua pela estava macia, fenômeno que não consegue ser explicado pelos cientistas.

KazuFolha

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Difícil Aprendizado Que Não Existe Lanche Grátis

19 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: impossibilidade de usar o que não foi produzido, para atender algumas aspirações é preciso sacrificar outros, reivindicações em todo o mundo

Multiplica-se por diversas partes do mundo reivindicações de toda ordem, algumas pacíficas, mas infelizmente muitas violentas, bastando abrir os jornais ou assistir aos noticiários pelos meios eletrônicos para constatar esta realidade. O que parece haver em comum é certo sentimento que basta pressionar com manifestações públicas, pois seus atendimentos dependeriam somente das vontades das autoridades e de suas discutíveis gestões, como se elas tivessem o poder de criar os recursos necessários. Os governos só transferem recursos de uns para outros segmentos da população, consumindo ainda parte para o seu custeio. Milton Friedman, o famoso economista, já tinha ensinado que não existe lanche grátis, e todas as soluções que parecem mágicas acabam impondo a alguém que não tem o mesmo poder custos pelas decisões tomadas. No site do The Economist, aparece um debate sobre o imperialismo do dólar, com a política monetária do FED – Sistema Federal de Reservas, que, se beneficia a recuperação da economia norte-americana, provoca distúrbios, principalmente nas economias emergentes.

Com a ampliação da disponibilidade de recursos em todo o mundo, uma parte dos aplicadores foi procurar aplicações rentáveis no mundo emergente, provocando a valorização dos seus câmbios, pois a maioria adota o câmbio flexível. Impor restrições para estes influxos de recursos prejudicariam estes países. Desencadeou-se uma guerra cambial, com a Europa e o Japão, que tinham condições também ampliar as disponibilidades de suas moedas, procurando desvalorizar também o euro e o yen. Mas na medida em que o FED inicia uma política de redução destes estímulos monetários, acaba provocando bruscos refluxos, valorizando rapidamente os câmbios de alguns países emergentes, que entre outros efeitos tendem a provocar pressões inflacionárias locais. As grandes flutuações também agem no sentido prejudicial para estas economias. Tornou-se um processo em que cada um cuida do seu interesse, e os que não podem se defender por falta de poder acabam sendo prejudicados.

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A Porcelana Imari Que Encantou a Europa

18 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: as porcelanas Imari, exportação tradicional para a Europa, exposição da coleção do Museu da Cerâmica Oriental de Osaka em Tóquio | 8 Comentários »

Das muitas escolas consagradas de cerâmicas e porcelanas japonesas, possivelmente a Imari é das mais conhecidas no exterior por estar sendo exportada desde o final do século XVII, ainda quando o relacionamento internacional do Japão era efetuado exclusivamente pelos holandeses, que passou por uma abertura na Era Meiji. Convidado pelo governo japonês, tivemos o privilégio de compor um grupo restrito para conhecer alguns fornos mantidos por gerações na região de Arita, na atual Prefeitura de Saga, alguns que eram considerados Tesouros Nacionais Vivos, por utilizarem as técnicas tradicionais e ter parte de sua produção adquirida pelo governo para constarem dos acervos dos Museus.

O acervo mais importante de peças Imari encontra-se atualmente no Museu de Cerâmica Oriental de Osaka. 190 peças foram selecionadas deste acervo e estão sendo apresentadas em Tóquio atualmente, no já renomado Museu de Arte Suntory, em Roppongi, que vem se destacando por excepcionais apresentações de variados objetos de arte, da mais elevada qualidade. Como é sabido, os japoneses aperfeiçoaram as técnicas aprendidas dos chineses, por intermédio dos artistas coreanos, tendo se concentrado inicialmente na região sul do Japão, mais próxima da península coreana. Sua exportação substituiu a chinesa, sendo efetuada pelo porto Imari, ficando consagrada por este nome. Um artigo publicado no Japan News, do grupo do jornal Yomiuri, relata o assunto, ricamente ilustrado com fotos de Kazuyoshi Miyoshi.

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The Museum of Oriental Ceramics, Osaka/Photo by Kazuyoshi Miyoshi

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Uma Nova Fase do Site AsiaComentada

18 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Imprensa, Notícias | Tags: colaboração com a Carta Capital, continuidade dos artigos tradicionais, mudança para a inclusão eventual de publicidade | 6 Comentários »

Estamos inaugurando uma nova fase neste AsiaComentada, que já tem um histórico de aproximadamente 3.000 artigos postados, tendo recebido mais de 2.300 comentários aprovados, além de milhares considerados spam. Ele nasceu com o objetivo de informar um pouco sobre a Ásia real, de cultura milenar, que conta com 60% da população mundial, infelizmente conhecida no Brasil e na América do Sul mais pelos seus aspectos folclóricos. Como também informar sobre esta parte emergente do mundo, ainda conhecida mundialmente de forma distorcida pela sua Amazônia, Carnaval e futebol, quando é muito mais rica culturalmente com o seu intenso processo de miscigenação. O site tenta contribuir para um entendimento recíproco mais profícuo entre estas duas regiões que tivemos a oportunidade de conhecer razoavelmente in loco, morando e trabalhando pelos seus rincões até mais profundos por muitas décadas.

Inicia-se esta nova fase estabelecendo um intenso intercâmbio com o site da Carta Capital, do grupo dirigido pelo Mino Carta, este extraordinário jornalista, certamente o mais inovador na história da imprensa brasileira. Eu o conheci há mais de cinquenta anos, ainda na redação da Folha de S. Paulo, acompanhei-o na sua criação de novos e importantes veículos brasileiros, bem como nos trabalhos que fez nos bastidores deste país.

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Para esta nova fase, ainda está se preparando um novo desenho atualizado e aperfeiçoado para o AsiaComentada, acrescentando histórias em capítulos sobre os bastidores da política brasileira que participei intensamente, inclusive em muitos dos seus momentos mais cruciais, sobre os quais dificilmente haverá consenso. Reunidos, poderão constituir um livro, como sempre foi da tradição cultural japonesa, como expresso em Musashi, de Eiji Yoshikawa, inicialmente publicado em capítulos em um jornal, que se tornou disponível em português pela ousadia da Editora Estação Liberdade. Agora, os capítulos dos bastidores serão em versão eletrônica, seguindo a evolução tecnológica.

O que relato sobre a Ásia baseia-se na vivência que tive morando e trabalhando naquela parte do mundo, percorrendo por anos países como a China, Japão, Cingapura, Malásia, Coreia do Sul, Índia e Tailândia. Como sobre o Brasil e a América do Sul, onde trabalhei e percorri os seus confins mais remotos, como as fronteiras internacionais com o Uruguai, Argentina, Paraguai até da Amazônia. Além dos rincões de todo o interior brasileiro do Rio Grande do Sul até o Nordeste, passando pelo Sudeste, Centro Oeste até a Perimetral Norte, onde labutei por décadas. Os conhecimentos adquiridos foram no contato direto com o povo, posseiros, colonos, agricultores, extrativistas, pecuaristas como com autoridades, além de algumas leituras dos acervos mais importantes em bibliotecas renomadas.

Tendo trabalhado na Europa e na América do Norte, tinha como comparar as novas regiões percorridas com os padrões utilizados como referências em outras partes do mundo. Como ensinou Oliveira Lima, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, que publicou a sua primeira edição do livro “No Japão – Impressões da Terra e da Gente” em 1903, para ser justo é preciso englobar as primeiras impressões que são boas com as misérias que são percebidas depois de algum tempo de vivência local para poder se expressar uma opinião justa.

Mas todas estas regiões do mundo passam por mudanças rápidas, e o que parece ser a verdade num instante já apresenta alterações dinâmicas difíceis de serem acompanhadas. Todos que temos visões diferentes destas realidades precisamos ser humildes, pois, como ensinou o autor do fabuloso Rashomon, até uma realidade objetiva pode ter leituras diferentes dos diversos personagens envolvidos, muitas vezes de acordo com suas conveniências. Só os loucos podem querer ser os donos da verdade.

No atual mundo globalizado, o que acontece em qualquer parte do universo é quase instantaneamente transmitido para todos, e a avalanche de informações acaba prejudicando a sua qualidade, muitas vezes com as emoções superando análises mais profundas que permitam chegar à suas essências. Ainda que as múltiplas visões sejam desejáveis na convivência indispensável em sociedades democráticas.

Agradeço pelos comentários a este artigo como os demais postados no site AsiaComentada.


Mitsui Pretende Ampliar Atividades Com Grãos

17 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: notícias no Japan News, planos para ampliação de operações com grãos, visando segundo lugar no mundo | 2 Comentários »

Uma notícia surpreendente foi publicada no Japan News, do grupo Yomiuri Shimbun, tendo como fonte a Bloomberg. A trading japonesa Mitsui & Co. pretende ampliar em 25% dentro de três anos suas atividades relacionadas com os grãos, tornando-se a maior no Japão, desafiando tradicionais operadoras mundiais como a Cargill e a Dreyfus. Com os resultados com o minério de ferro, diante da desaceleração do crescimento da economia chinesa, está procurando ampliar suas atividades nas áreas de alimentação e saúde que estão em expansão no mundo. No seu setor de Lifestyle, que envolve a agricultura e a medicina, está ampliando os seus investimentos e financiamentos em cerca de US$ 4 bilhões nos quatro continentes.

Pretende negociar 20 milhões de toneladas métricas de grãos por volta de 2017. Com isto, almeja ultrapassar a norte-americana Cargill assim como a francesa Dreyfus, bem como a nova operadora Marubeni do Japão. A declaração seria do gerente de planejamento estratégico do grupo, numa entrevista concedida em Tóquio, afirmando que estaria junto das chamadas majors do mundo. Segundo dados da International Grain Council, estaria com 7% do comércio global anual. Neste ano fiscal de até abril, pretende atingir 16 milhões de toneladas, quando no ano anterior era de 13 milhões.

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Sede da Mitsui & Co. em Tóquio

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O Exemplo da Liga Estudantina Nipo-Brasileira

17 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: apoio da Fundação Kunito Miyasaka, Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, estudo preliminar importante, o jornal Gakusei (1935-1938) | 2 Comentários »

Um interessantíssimo trabalho foi coordenado pelo sociólogo Sedi Hirano e elaborado pelos doutorandos Gustavo Takeshy Taniguti e Matheus Gato de Jesus, todos do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo. Foi financiado pela Fundação Kunito Miyasaka, que vem se destacando pelo suporte a importantes trabalhos. No final de 2013, foi apresentado um relatório parcial de pesquisa que contém valiosas informações históricas mostrando que um pequeno grupo de japoneses e seus descendentes organizaram a Liga Estudantina Nipo-Brasileira, que acabou tendo uma curta duração devido ao advento da Segunda Guerra Mundial, mas desempenhou um importante papel. Documentos relevantes foram resgatados, que devem servir de subsídios para todos que se interessam por estes assuntos que contribuem para a formação da identidade brasileira.

Antes da Segunda Guerra Mundial, um número muito limitado de imigrantes japoneses e seus descendentes moravam na cidade de São Paulo, talvez somente alguns milhares (estima-se entre 2.500 a 4.500, que cresceu no período), pois a imigração tinha se iniciado formalmente em 1908. A metrópole paulistana começava a se consolidar como o centro que reunia muitos vindos do interior do Estado e arredores, principalmente para estudarem, pois os imigrantes japoneses atribuíam alto valor à educação. Um importante grupo de recém-formados em cursos superiores, estudantes universitários e outros que ainda no secundário pretendiam utilizar a educação formal como mecanismo de ascensão social e integração à sociedade brasileira (estima-se que eram em 300 em 1934), e alguns deles formaram esta importante e significativa instituição composta de poucas centenas de membros, com crescente predominância dos que tinham nascido no Brasil com o tempo. Ainda eram de nisseis, ou seja, a segunda geração dos imigrantes, mas que se definiam como brasileiros, mesmo que alguns pais japoneses tradicionalistas ainda alimentassem o sonho de retornar ao Japão. A menção pioneira destes fatos, em português, está no fabuloso livro de Tomoo Handa, “O Imigrante Japonês, História de Sua Vida no Brasil”, T.A. Queiroz, Editor, Centro de Estudos Nipo-Brasileiros, São Paulo, 1987.

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A Liga Estudantina foi fundada em 21 de outubro de 1934, com o apoio do Consulado Geral do Japão, da Liga dos Amigos das Escolas Japonesas de São Paulo, e patrocinadores privados. Editou uma revista Gakuyu (escola em japonês) e dois jornais Gakusei (estudante em japonês) e Transição. O Centro de Estudos Nipo-Brasileiros preserva a coleção dos mesmos. O trabalho preliminar de setembro de 2013 concentra-se no Gakusei e o seu conteúdo, que reflete os artigos elaborados pelos membros da Liga Estudantina, procurando interpretar os seus pensamentos básicos de integração dos seus autores na sociedade brasileira.

O importante a ser ressaltado é que a Liga, neste curto espaço de tempo, passou a contar crescentemente com dirigentes e membros nisseis, bem como relacionamentos com alguns brasileiros natos que se interessavam pelo grupo, com a diminuição natural dos nascidos no Japão. Mesmo depois da Guerra, quando a comunidade nipo-brasileira passou a contar com uma participação mais ativa após do Quarto Centenário da Fundação de São Paulo, em 1954, esta integração era mais acentuada que na atualidade. A inicialmente Sociedade Paulista (hoje Brasileira) de Cultura Japonesa e especialmente a Aliança Cultural Brasil Japão contavam com a participação ativa de personalidades, inclusive como dirigentes, que não eram da comunidade nipo-brasileira, mas que se interessavam pelos aspectos culturais dos japoneses e seus descendentes.

O impressionante é que dos membros desta Liga Estudantina dois se tornaram deputados federais, Yukishigue Tamura e João Sussumo Hirata, um deputado estadual, Ioshimufi Utiyama, muitos profissionais liberais consagrados nas mais variadas áreas do conhecimento, como médicos e advogados, uma educadora renomada como Yoneko Nishie, alguns empresários importantes, e jornalistas atuantes na imprensa brasileira como José Yamashiro e Hideo Onaga. Era o que havia de melhor na sociedade nipo-brasileira, bastante diferente de hoje, lamentavelmente.

Com a perspectiva atual, incidentes como os relacionados com os tradicionais japoneses perderam a importância, mas ficou marcada a importância do processo de integração na sociedade brasileira daquela época, que, com toda a forte miscigenação com outras etnias e culturas recentes, acabou diferenciando uma nova identidade.

O trabalho cuidadoso permite muitas outras considerações, e deve ser uma primeira fase de um trabalho que pode se ampliar, resgatando as raízes das contribuições de muitos nipo-brasileiros para a consolidação da sociedade brasileira. Acaba contribuindo para a compreensão da evolução do bairro da Liberdade, onde se concentravam os japoneses da época, com seus descendentes.

Fornece uma ideia das faculdades e escolas que eram frequentadas pelos membros da Liga, indicando também a bibliografia disponível sobre assuntos correlatos, bem como dá uma ideia de onde podem ser localizados os documentos originais. Alguns dos seus dirigentes mais destacados também são sucintamente mencionados.

São informações que estimulam novas pesquisas e considerações, permitindo que muitos debates sobre estes assuntos e correlatos possam ser objetos de trabalhos acadêmicos.