Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Visão dos Ingleses Sobre as Mudanças Chinesas

15 de novembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: consenso que as mudanças foram mais políticas, os problemas de poluição, posições do Financial Times, uma nota do The Economist

Uma das técnicas mais utilizadas por todos é falar mal dos outros, quando se enfrentam problemas próprios graves. Os ingleses ainda usam também da ironia, fazendo humor com a sua própria desgraça, como o The Economist nos recentes artigos que falavam sobre a decadência do Reino Unido, que já teve muito mais importância mundial. O jornal Financial Times acaba destacando que a poluição chinesa é a prova de que muitos objetivos estabelecidos pelos diversos planos passados dos chineses são meras palavras, como as atuais que só tiveram o objetivo de concentrar o poder nas mãos do presidente Xi Jinping e do primeiro-ministro Li Keqiang, mostrando que sem isto as resistências para as reformas seriam incontornáveis. Ambos os veículos, que escrevem muito sobre a China, concordam que a mudança na organização da administração foi mais importante e efetiva que as medidas de reformas ainda a serem detalhadas. A nós parece que as mudanças no tratamento dos imóveis rurais também têm a sua importância marcante.

O Financial Times desfila depoimentos de muitos acadêmicos chineses que se mostram insatisfeitos expressando suas críticas, muitas delas realmente relevantes. O problema mais complexo costuma ser o que terá que ser feito e como, havendo múltiplas opiniões daqueles que não contam com o poder para executá-las. Para quem não tem a responsabilidade de implementá-las, criticar é fácil. O The Economist já tinha antecipado as equipes competentes que foram selecionadas, tanto na formulação dos planos como na cobertura política, agora se limitou a registrar a importância da mudança no poder de decisão.

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Third Plenary Session of the 18th CPC Central Committee in Beijing Photo: AP/XINHUA

Ainda que existam diversos graves problemas na China, a disposição do novo governo colocá-los em discussão e providenciar algumas reformas indicam uma forte disposição política para superá-los, montando o quadro político necessário. O governo empenhou-se também em ocupar os meios de comunicação social, mesmo consciente que existem muitos dissidentes utilizando as mais variadas formas para manifestarem, inclusive as redes sociais.

A questão da corrupção que também é grave no país recebeu um tratamento antecipado informando o mundo sobre as punições impostas, mesmo que existam segmentos que professam as mesmas posições políticas conservadoras.

O que parece claro é que só se estabeleceram as grandes diretrizes que serão perseguidas numa década com projetos específicos, que procurem reduzir as diferenças entre a população urbana com a rural. Para um país da dimensão chinesa, com suas diversidades regionais acentuadas, nada parece fácil de ser equacionado adequadamente, havendo necessidade de priorizar o mercado interno como alavanca para o desenvolvimento.

A definição de que o mecanismo de mercado será fundamental para determinação dos investimentos a serem efetuados estabelece um critério para a eficiência das estatais que acabarão sendo avaliadas, quando havia uma profusão de considerações que interferiam na competência dos dirigentes que seriam promovidos.

Mesmo que as decisões anunciadas pareçam vagas e não satisfaçam a todos os críticos, constata-se que existe uma lógica asiática para o conjunto das mesmas, ainda que sempre possam ser indicadas lacunas existentes. Não parece adequado que o desejável seja confundido com o possível, notadamente num país emergente com tantas diferenças regionais e pessoais, que se procuram diminuir.

Ainda que existam aspirações legítimas para maiores liberdades políticas, parece que as sociedades asiáticas são hierarquizadas fugindo aos conceitos ocidentais, ampliando-se os poderes das comunidades locais, ainda que as medidas para avaliar a eficiência dos administradores tendam a ser aperfeiçoadas.

Tudo indica que uma nova e longa jornada será perseguida pela China, inserida no mundo globalizado que enfrenta suas dificuldades, ainda com as esperança de recuperações nas mais variadas regiões do mundo.