Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A “Longa Marcha” das Mulheres Chinesas

5 de fevereiro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura | Tags: , , ,

Na China, no fim do Império Manchu, enfrentando problemas de escassez e sobrevivência, as meninas eram mais propensas a sofrer infanticídios do que os meninos. Meninas nascidas em famílias de não intelectuais ou funcionários oficiais não recebiam nomes. Elas eram simplesmente chamadas “menina número um”, menina número dois”. O casamento de uma menina era arranjado, e jamais era uma união por amor: jovens não deviam se ver antes de se casarem, era vergonhoso apaixonar-se. Não que isso fosse proibido, mas porque jovens nunca deviam se expor a uma situação de “namoro”. Era imoral uma moça se encontrar a sós com um rapaz.

O casamento era simplesmente uma obrigação para elas, um contrato entre duas famílias. Se tivesse sorte, ela poderia se apaixonar depois de casada.

Uma maneira de a mulher demonstrar seu amor pelo marido era concordar sempre com ele, em tudo. Assim que a noiva deixava sua família, imediatamente se tornava a nora sob o controle da mãe do marido, e quase sempre era cruelmente tiranizada por ela. Se tivesse a sorte de o marido ser rico e poderoso, ela poderia até morar separada da sogra, mas poderia também se deparar com esposas secundárias – ou concubinas – em sua própria casa. Principalmente se não desse à luz um herdeiro menino. Ela podia ser repudiada pelo marido por inúmeros motivos, desde os mais fúteis. Se ele morresse, ela dificilmente poderia se casar de novo, não teria independência econômica, nem lei alguma que a protegesse.

E mais, para uma jovem ser considerada desejável e atraente para se casar bem, havia ainda uma exigência feudal, de mais de mil anos: a menina tinha que ter pés diminutos (de até 8 cm), provocados por deformação por enfaixe a partir de dois / três anos (assunto esse que será discutido em outro artigo).

Durante os longos anos da tentativa de se criar uma China autônoma, entre 1911-1937 (Sun Yatsen, Chang Kai-chek), houve movimentos liberais para criar uma sociedade civil e abolir os males da velha China e estabelecer novos valores para uma nova China. Mas foi somente com o advento de Mao Tsé-tung e a instituição da República Popular da China que o país viria conhecer um período de relativa paz e de reconstrução e inovação (1949 –1976). Criaram-se leis e, em teoria, as mulheres foram liberadas da dominação masculina e familiar: a mulher foi equiparada em igualdade com os maridos, podia requerer divórcio, ter um trabalho e receber salário equivalente a esse trabalho, estudar além do nível médio. A Revolução sob o Pensamento de Mao permitiu às mulheres galgarem altos postos nas brigadas maoístas e importantes cargos político-administrativos. Na era pós-Mao, porém, houve uma surpreendente redução do poder feminino, como analisa Paulo Yokota neste site (Mudanças na China, 03/02/2010).

A marcha foi longa. E continua. Porém, o fato de elas terem o seu status de pessoa humana reconhecido, e emergido da opressão e da discriminação a que tinham sido relegadas por séculos, convenhamos, já foi uma grande vitória. Parafraseando o slogan feminista, anos 60,“You’ve come a long way, babe.”



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