Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Por Uma Reconstrução Segura, Eco-Amigável e Humanizada

20 de junho de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias, webtown | Tags: , , , , , , , | 2 Comentários »

Passados 100 dias do grande terremoto e tsunami no Leste japonês, o trabalho de recuperação segue árduo nas áreas atingidas. Com ajuda que vem sendo liberada pelos governos federal e provincial, e pela distribuição de cotas de doação através da Cruz Vermelha Japonesa, a capacidade local de produção industrial e comercial está se restabelecendo, em maior ou menor grau e rapidez, dependendo das áreas atingidas. O consumo vem crescendo visivelmente; se no primeiro momento ele visava bens comestíveis, agora a população já está começando a recompor suas vidas. Supermercados e lojas de departamentos ampliam ofertas de móveis, eletrodomésticos, roupas de cama e banho, cosméticos, vestuário etc., para fazer face à crescente procura.

A comissão do governo que estuda medidas de prevenção a terremotos e tsunamis fez a terceira reunião em Tóquio, no domingo, para finalizar minuta que será apresentada nos próximos dias. Os especialistas, baseados nos relatórios dos estragos registrados em tempos passados, concordam que os preparativos devem considerar os cenários piores para desastres naturais. É preciso que diques e outras prevenções litorâneas de defesa contra tsunamis sejam construídos combinados com rotas de escape que levem para locais mais altos, onde a população possa se abrigar em estruturas seguras. A construção dos diques deve manter o alto padrão atual, mas eles devem ter a capacidade de brecar e ajudar a reduzir o peso e a velocidade de gigantescas ondas (que, em 11 de março, em muitas localidades chegaram a 37 – 40 metros de altura), sem se romper ao primeiro impacto, dando tempo para as pessoas escaparem. O governo estuda subsidiar fontes de energia renovável (eólica, solar e geotérmica) para uso em repartições públicas, escolas e hospitais nas cidades afetadas – assim como patrocinar custos para o estudo do impacto ambiental por empresas que queiram entrar no negócio da geração de energia.

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Andorinhas Voltam a se Aninhar em Minami Sanriku

17 de maio de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags: , , , , ,

No dia 11 de março, Mary Caitlen Churchill aproveitava intervalo para estudar japonês numa sala da Escola Elementar de Togura, em Minami Sanriku, província de Miyagi. Vinda de Boston, Massachusetts, ela lecionava inglês em escolas da região através de programa de intercâmbio para professores. Após o forte tremor, o alarme de tsunami alertava para ondas de 10 metros. Diretor, professores, alunos e funcionários escalaram morro atrás da escola, e viram o prédio de três andares coberto pelas ondas. Que, se constatou depois, atingiram mais de 16 metros na cidade. Caitlen e os demais sobreviveram apenas com a roupa do corpo. Naquela noite, se abrigaram num depósito, e comeram meio onigiri cada um. Muitas das crianças ficaram órfãs.

Milagrosamente, a escola de Togura, em alvenaria, permaneceu de pé em meio à lama, coberta de detritos, redes de pesca e algas marinhas. Mas 95% da cidade de Minami Sanriku foi destruída. Situada no fundo de pequena linda baía, igual a outras dezenas ao longo do litoral nordeste, a cidade pesqueira girava em torno da fartura do seu mar. Criações de ostras e algas cultivadas em belas fazendas marinhas, ancoradouro, indústria pesqueira, barcos, depósitos, tudo foi levado pelas ondas. O governo japonês formou um conselho para estabelecer metas para restauro. Primeiro-ministro, governadores e prefeitos são a favor de reconstrução em vez de mera recuperação. Municípios severamente atingidos vão ter autonomia para decidir sobre taxação de impostos, zoneamento de florestas e terras, ocupação do solo etc.

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Prédio da escola em meio à lama. O diretor Atsushi Asokawa observa relógio

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Professora Mary Caitlen Churchill . Prefeito de Minami Sanriku com o casal imperial

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Julia Gillard com o prefeito Jin Sato. Andorinhas tsubame em cantos de casas

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“Cool Biz” nos Rastros do “Cool Japan”

13 de maio de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , ,

Quando foi implantando o racionamento de energia elétrica no Brasil entre junho de 2001 e fevereiro de 2002, brasileiros do sudeste até o norte tivemos um ataque: como vamos fazer agora? Mas logo conseguimos baixar as metas de quilowatts em níveis determinados para cada moradia (drásticos, para algumas famílias). Trocaram-se lâmpadas para fluorescentes econômicas, geladeiras para modelos com certificado de consumo, desligaram-se freezers, micro-ondas; famílias patrulhavam uso de chuveiros, TV e internet. Pela primeira vez estávamos aprendendo a usar racionalmente a energia elétrica. E nem estávamos saindo de uma guerra, tampouco de terremoto ou outras catástrofes: o sistema de geração com alta dependência hidrelétrica aliado à insuficiência de novos empreendimentos tinha sido agravado por longa e crítica estiagem. Além de trazer significativa redução no consumo de energia, o racionamento serviu também para educar o povo brasileiro. Com reflexos benéficos até os dias de hoje.

Com diversos reatores nucleares sendo desligados para verificação, e racionamento programado de energia elétrica ameaçado pela alta de consumo no verão, o Japão pós 11 de março está reavivando a campanha do Cool Biz, moda norte-americana que procura usar roupas informais para o verão. Introduzida no verão de 2005, governo Junichiro Koizumi, era para ajudar na redução da emissão de gases poluentes: propunha-se manter o ar condicionado em locais de trabalho a 28º C, e permitir uso de roupas leves, abolindo-se gravatas e paletós no Japão. Houve muitas resistências por parte dos conservadores homens japoneses, mas em todos os verões vem se tentando popularizar a medida. Este ano, o Cool Biz começou um mês antes e irá até outubro, com adesão até entusiasmada devido à situação. Cartazes na entrada de prédios em Tóquio pedem para residentes e trabalhadores colaborarem com a campanha.

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Sobre Sismos e Usinas Nucleares

9 de maio de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , , , , | 7 Comentários »

Dando fim à controvérsia que dominou o noticiário da mídia japonesa neste fim de semana, a operadora Chubu Electric Power Co. decidiu acatar o pedido do governo para desligar os reatores da usina nuclear de Hamaoka. Localizada na cidade de Omoezaki, província de Shizuoka, a usina é de vital importância para a região que compreende as industrializadas províncias vizinhas de Aichi, Mie e Gifu.

A vulnerabilidade dos 54 reatores de energia nuclear em operação no Japão ganhou evidência após o terremoto de 11 de março ter provocado a crise da usina de Fukushima Daiichi. O premiê Naoto Kan, ao pedir pela paralização de Hamaoka, observou que estudos sismográficos indicam que há uma possibilidade de 87% de um grande terremoto de magnitude 8.0 Richter ocorrer nessa região de Tokai (mar interno do leste do Japão até a baía de Seto), nestes próximos 30 anos. A Chubu Electric deverá religar os reatores após serem realizadas medidas de prevenção e reforço adicionais contra sismos e tsunamis – o que poderá levar dois ou mais anos.

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Usina nuclear de Hamoka, que teve seus reatores desligados

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Ídolos em Correntes de Solidariedade

11 de abril de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , , ,

O teatro da emissora NHK em Shibuya, Tóquio, tem sido palco de shows e concertos transmitidos ao vivo, dedicados a consolar desabrigados do nordeste do Japão. Com adesão carinhosa de cantores populares de diferentes ondas e idades, e de veteranos queridos como Hossokawa Takashi, Kitagima Saburo, Miyako Harumi, Sen Massao e Shujenzi Kiyoko. O repertório é de canções de eterno sucesso que o público canta de cor, e remetem a temas que cativam a todos: saudade, natureza, amores passados, terra natal…

Uma das músicas que mais fala ao coração de todos os japoneses nestes dias, sejam ou não oriundos do nordeste do país, é o grande sucesso lançado pelo cantor Sen Massao nos anos 70, Kitaguni no Haru (“Primavera da Região Norte”): fala da saudade de quem deixou o torrão natal, amigos, primeiro amor e pais para tentar vida em cidade grande. Sen Massao relatou que é natural de Rikuzen-Takata, província de Iwate – cuja parte junto ao litoral foi totalmente devastada pelo tsunami. A casa onde ele nasceu, em colina mais afastada, escapou por pouco. Sua idosa mãe, o irmão, e sobrinha escaparam ilesos, mas o cantor perdeu amigos de infância e colegas da escola. Ao cantar a conhecida Kitaguni no Haru com lágrimas nos olhos, o cantor foi acompanhado em coro pelos outros artistas no palco, e pela plateia. Ninguém conseguia conter o choro. Tampouco desabrigados que assistiam pela televisão, com certeza. Ou nipo-brasileiros veteranos que cantaram muito esta canção (e cantam ainda) pelos karaokês.

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Sen Massao, Placido Domingo, Zubin Mehta e Ryo Ishikawa: solidariedade

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Onigiri (Bolinho de Arroz) e Voluntários: Mobilização Anônima

28 de março de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , ,

“Onde estão as pessoas? E os voluntários de que o país tanto se orgulha?” – perguntava um repórter de importante emissora brasileira de TV, estacionado em Ôshu, província de Iwate, contemplando a devastação e o silêncio da região litorânea de Ôfunato: lá embaixo, vilarejos destruídos estavam vazios de gente, apenas o cenário apocalíptico. Era o 3º ou 4º dia após o tsunami, a terra tremia a toda hora, 3.0 a 6.0 Richter. Alarme e alerta permanente para novas possíveis ondas; que ninguém voltasse às cidades, não se aproximasse do litoral.

Onde estava o povo? Ora, nos seguros centros de evacuação ou nas centenas de abrigos improvisados, em lugares mais altos, onde as pessoas se refugiaram, guiadas por alto-falantes de alerta, pelas placas indicativas, ou por puro instinto. O relato de sobreviventes é atroz: as primeiras 48 horas foram pesadelo, fome e frio. Isolados, sem comunicação, só puderam contar com a ajuda de gente da região que tinham escapado da destruição. Ao longo de 500 quilômetros do litoral nordeste, desde Aomori até Fukushima, a comunicação ficou interrompida: telefones, celulares, TV, internet – tudo fora do ar. Pontes soçobravam, estradas ficaram inundadas ou destruídas na parte do litoral, e interrompidas por avalanches e deslizamentos na parte interna de Honshu (a principal ilha do Japão). Depois da falta de comida e remédios, o que mais afligia sobreviventes, feridos e doentes era a falta de notícias, sem saber o que acontecia no resto do país. Sem falar do frio inclemente.

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Filme Japonês é Premiado no Festival de Berlim

21 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: , , ,

Pelo terceiro ano consecutivo, um filme japonês recebe o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, no 61º Festival de Cinema de Berlim. Os anteriores foram Parade, de Isao Yukisada (2008), e Love Exposure, de Shion Sono (2009). Heaven’s Story, do diretor e ex-produtor porno-soft Takahisa Zêze, é um drama épico de quatro horas e meia, que retrata vida de uma dezena de personagens cuja tragédia comum é a violência traumática a que são submetidas pessoas que tiveram entes queridos assassinados.

Dizendo-se profundamente comovido com a apreciação que o filme recebeu da audiência internacional, Takahisa Zêze acrescentou que se baseou em ocorrências reais acontecidas no Japão nesta última década. Enquanto filmava, ponderou sobre como as pessoas deveriam encarar a vida, apesar da crueza a que possam ser jogadas. O filme tenta refletir sobre o abismo a que estamos todos caminhando. Zêze almejaria que pudéssemos evitá-lo, “antes que o mundo seja destruído pelo ódio”.

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Cenas do filme Heaven’s Story, de Takahisa Zêze

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Tímidas Mulheres Japonesas

14 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags: , ,

Ventos da liberação pop estão fazendo bem às mulheres japonesas. Takako Nagase, membro da Câmara dos Comuns, e outras 20 deputadas do Partido Democrático Japonês (do governo), se cotizaram para presentear o primeiro-ministro Naoto Kan com uma bela e inusitada gravata cor-de-rosa, pink cheguei. Amaldiçoado seja quem pensou mal: num momento em que o governo atravessa índice de aprovação flutuando perigosamente para baixo no meio de tempestades no parlamento, elas esperam que esse acessório inspire sortilégio mágico e sedutor ao ministro, projetando imagem renovada de forte e viril liderança junto ao público.

Nagase falou a repórteres que o ministro ficou muito feliz com o talismã e o colocou incontinenti. Espera-se que ele compareça usando a nova gravata nas próximas reuniões do Parlamento. Nos últimos anos, a imagem de várias deputadas em elegantes tailleurs bem cortados trouxe novos ares ao antes sisudo ambiente parlamentar de ternos escuros e sombrios. Até o momento, nenhum dos sérios e carrancudos parlamentares da ala masculina se manifestou a respeito da desinibida movimentação de suas colegas, que estão causando.

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Naoto Kan. Dia dos Namorados no Japão: entusiasmo de jovens garotas e muitos bombons em lojas

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Cenas do Inverno Japonês – II

7 de fevereiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags: , , , ,

À previsão de mais frio a noroeste do país, ao longo da costa do Mar do Japão, outras notícias aquecem corações. No fim do ano, famílias que estavam indo passar o feriado com parentes idosos ficaram bloqueadas pela tempestade de neve nas estradas, tendo que permanecer longas horas dentro de seus carros, ou até a pernoitar. Muitos casais estavam com crianças pequenas.

Pois chegam relatos televisivos de que prefeituras de vilarejos e gente da área rural afetada pela neve estão recebendo cartões, cartas e lembrancinhas de agradecimento das pessoas que, surpreendidas pela tempestade e presas dentro dos carros, tinham obtido pequenas, inolvidáveis atenções dos habitantes locais. Estes fizeram plantões nas estradas levando bules de café e chá quentes, bolinhos de arroz, udon fumegante (sopa de macarrão), e repartiram o infalível toshi-koshi soba (consomê de macarrão sarraceno, típico da passagem de ano); facilitaram uso de lavatórios e banheiros, levaram palavras de conforto. Ao nos inteirar que aquelas pessoas obrigadas a passar o réveillon na estrada tinham afinal tido uma passagem de ano não completamente abandonadas à solidão congelada, fica-nos uma sensação de terno aconchego – apesar de em mundos tão distantes.

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Cenas do Inverno Japonês

4 de fevereiro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , , , ,

Enquanto no hemisfério sul – da América do Sul à Oceania – chuvas intensas afligem cidades, rios, montanhas e populações, trazendo temporais, índices pluviométricos recordes ou ciclones, o hemisfério norte sofre igualmente, afundado em neve. Frio e precipitação de neve atingem recordes nunca vistos, de Chicago-EUA a Niigata-Japão e do Golfo de Bohai-China a Pyongyang- Coreia do Norte.

Na região noroeste de Honshu, que Yasunari Kawabata chamou Yukiguni, País das Neves, províncias como Fukui, Nagano, Niigata, estão pedindo ajuda a tropas da Força de Defesa Nacional: cidades estão enterradas sob neve de dois metros ou mais, há ameaça de avalanches, e colapso de eletricidade e abastecimento. Estradas e linhas bloqueadas obrigam viajantes a pernoitarem dentro de trens paralisados. Idosos que moram só sofrem muito: permanecem sitiados dentro de casa incapazes de remover neve que se acumula nos telhados e enterram portas e janelas.

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