Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Tsunami de Informações Sobre a China

11 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , , ,

O verdadeiro tsunami de informações sobre a China que está ocorrendo com a visita da presidente Dilma Rousseff àquele país dificulta a seleção das notícias mais relevantes. Muitas informações originárias de jornais internacionais, mesmo tentando ser isentos, sempre apresentam vieses ideológicos e naturais interesses de outras potências, como o exagero dos assuntos relacionados aos direitos humanos, ainda que eles sejam importantes e possam ser mencionados genericamente nos comunicados conjuntos.

O Brasil tem uma melhor consciência do que é de seu interesse nacional, como o relacionamento de longo prazo com a atual economia mais dinâmica no mundo. O que interessa é estabelecer bases sólidas para um intercâmbio como o de tecnologias, onde ambos os países possuem avanços em determinados setores, podendo interessar uma parceria para a sua evolução. Os chineses, pela estrutura do Partido Comunista Chinês, presente em todas as organizações relevantes e com uma estratégia profundamente estudada de longo prazo, sabe exatamente o que pode obter de interessante no intercâmbio com o Brasil.

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1. Presidente Dilma Rousseff desembarca na China. Foto Frederic J. Brown – AFP.

2. Capa do suplemento espcial do Valor Econômico

O jornal Valor Econômico inclui na edição de hoje um suplemento especial referindo-se às oportunidades e desafios nas relações bilaterais, com alguns textos resumidos em inglês. Como operação de consequências imediatas, noticia que será anunciada durante a visita a compra de 35 jatos BEM-190 da Embraer, com capacidade para 114 passageiros, pelas empresas chinesas, dentro da linha de aumentar as exportações brasileiras de produtos de maior valor agregado. E noticia a possibilidade de produzir na joint venture que mantém naquele país os jatos executivos do tipo Legacy 600.

A grande comitiva que acompanha a presidente Dilma Rousseff poderá colher alguns resultados interessantes, mas a sua finalidade básica deve ser aumentar o conhecimento recíproco para identificar as oportunidades de negócios interessantes, principalmente que tenham conteúdo tecnológico mais avançado.

É preciso entender que a China é um país e uma economia complexos, com longa história e vasta cultura, com diversidades pelas suas muitas regiões. Com o rápido crescimento por que vem passando nas últimas décadas, desenvolveu tecnologias avançadas em muitos setores, como o da construção civil e infraestrutura, dispondo de elevada capacidade de investimentos. No entanto, só nos interessam na medida em que não exijam a utilização de seus recursos humanos, que são abundantes, em obras locais, como estão fazendo em países de menor nível de desenvolvimento. O Brasil já conta com um complexo industrial, agrícola e de serviços, mais avançado do que o normal para economias do mesmo nível de renda.

Sendo o Brasil um país relativamente jovem, com história ainda recente, e uma elevada miscigenação étnica e cultural, contando com uma invejável disponibilidade de recursos naturais, uma biodiversidade impar no mundo, tem todas as condições para discutir de igual para igual, como já fez com os Estados Unidos. Mas, como todos os jovens, algumas vezes somos mais ousados e muitos dos nossos empresários procuram resultados de curto prazo.

Os interesses nacionais brasileiros devem ser colocados acima de tudo, como os chineses também os fazem. Há mais interesses comuns do que aspectos que nos separam. Vamos procurar tirar o máximo proveito desta oportuna viagem da presidente Dilma Rousseff que será relativamente longa, até a reunião de cúpula do BRICs que deverá ocorrer na próxima quinta feira.


Visita da Dilma Rousseff à China

10 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , ,

A China é o país emergente de maior destaque no mundo atual, e é o mais importante parceiro comercial do Brasil, que também conta com respeitáveis credenciais. A pauta que está sendo preparada para discussão entre os dois países, pelos diplomatas de ambos os governos, parece centrar-se nos intercâmbios de tecnologia, visando o relacionamento bilateral de longo prazo. Os funcionários do governo brasileiro e os representantes do setor privado que acompanham a presidente Dilma Rousseff nesta viagem são expressivos e numerosos, e terão contato com as elites chinesas mais preparadas que pode encontrar no mundo emergente, com clara visão dos seus interesses de longo prazo. Mais que resultados imediatos, o relevante parece ser o estabelecimento de bases sólidas para um intercâmbio profícuo de longa durabilidade.

A presidente Dilma Rousseff é conhecida pela sua qualidade pessoal de estudar profundamente os assuntos que exigem suas decisões. Do lado da China, os brasileiros encontrarão dezenas de chineses com as qualidades dela, preparados nos melhores ambientes nacionais e internacionais, conhecendo profundamente todos os assuntos que possam ser colocados em discussão. A nossa experiência pessoal negociando naquele país nos ensinou que para cada brasileiro preparado é preciso esperar que haja no mínimo dez chineses do mesmo naipe ou superior.

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Presidente Dilma Roussef, presidente chinês Hu Jintao e o premiê Wen Jiabao

É do conhecimento geral que o Partido Comunista Chinês controla todas as decisões relevantes na China, ainda que algumas dissidências no país, e a cúpula partidária é composta de uma elite muito preparada e selecionada pelo mérito, que discute intensamente o Plano Quinquenal do país. Tem uma clara idéia de sua estratégia política interna e internacional estabelecida de forma consensual. Consideram o Brasil importante para as suas pretensões de continuarem com um desenvolvimento acelerado, melhorando a qualidade de vida de sua população, necessitando de alianças para assegurar o abastecimento de todas as suas necessidades, bem como colocação de seus produtos.

O Brasil, pelo seu sistema democrático e de mercado, ainda que pragmático, não conta com igual planejamento de longo prazo, nem um consenso tão amplo sobre as políticas a serem adotadas. O governo Dilma Rousseff, ainda no seu início de gestão, conta com um elevado nível de aprovação de sua população.

Existem muitos pontos e interesses que são comuns entre os dois países, mas também alguns aspectos onde existem divergências respeitáveis. As visitas desta natureza podem incrementar e aprofundar sensivelmente o intercâmbio bilateral e estabelecer bases para atuações conjuntas no plano internacional. As diferenças existentes não devem tirar o brilho dos entendimentos, principalmente por que será seguido da reunião do BRICs que, além dos emergentes Brasil, Rússia, Índia e China terá como convidado a África do Sul.

Em que pesem as parcerias já existentes, o desconhecimento recíproco entre o Brasil e a China ainda é amplo e generalizado. Tanto os empresários como a população em geral se conhecem ainda superficialmente, havendo um amplo campo para o seu aprofundamento, que poderá ser feito ao longo de muito tempo. Ambos os países são extensos, com diferenças regionais, étnicas e culturais apreciáveis, bem como potencialidades pouco conhecidas.

A visita pode representar um ponto de inflexão na evolução do intercâmbio bilateral, que é de alto interesse de ambas as partes.