Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Para Entender Muito do que Acontece no Brasil Atual

28 de novembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Dos muitos problemas complexos que estão ocorrendo no Brasil, alguns se tornam mais compreensíveis com a leitura atenta do artigo publicado pelo professor Antonio Delfim Netto na sua coluna semanal no jornal Valor Econômico. O governo continua contando com um elevado prestígio popular, pois a população sente um aumento do nível do seu bem estar, em parte decorrendo da melhoria na sua distribuição de renda, muito bem captada pelo gráfico que é apresentado. Esta contínua evolução é confortante, se bem que a distribuição de renda medida pelo índice Gini para o Brasil ainda não tenha atingido o que já ocorre em muitas outras economias.

No entanto, existe uma desconfiança mútua do setor privado e do governo, que não permite a aceleração dos investimentos, condição indispensável para a aceleração do crescimento econômico brasileiro. Para tanto, são utilizadas no artigo as lições da Teoria de W.J.Thomas., mencionado no livro de R.Merton, “Social Theory and Social Structure”, 1957, que será explicada mais didaticamente abaixo.

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O artigo aponta que importantes segmentos do setor privado, que efetuam os investimentos até em parceria com o setor público, ficaram com a impressão errônea que o governo pretende aumentar a estatização da economia brasileira, quando na realidade está oferecendo condições para a iniciativa privada, reconhecendo que não dispõe de todos os recursos indispensáveis, bem como competência na gerência de atividades que podem ser executadas pelos empresários.

O setor governamental, por sua vez, mantém o viés que o setor privado só almeja maximizar os seus lucros, em níveis considerados incompatíveis com as atuais condições da economia brasileira. Isto estaria ocorrendo em casos como a baixa das taxas de juros e dos spreads bancários, quando o governo teve que utilizar os seus bancos oficiais para induzir os bancos privados que acabaram colaborando. O mesmo estaria ocorrendo com o setor elétrico, que, apesar de já contarem com muitos investimentos amortizados, desejam manter as tarifas elevadas, para contarem com margens absurdas de lucros. Estes dois exemplos bastam para esclarecer o assunto, mas é preciso compreender que se o setor privado não tem uma adequada compreensão da política perseguida pelo governo, bem como sua estabilidade, acabam existindo riscos que necessitam ser cobertos.

Há que se desmontar esta desconfiança recíproca com diálogos francos entre as duas partes, o que pode ser efetuado somente em pequenos grupos. Somente discursos pomposos não removem as dificuldades, pois acabam sendo entendidos como publicidades ou posicionamentos para obter maiores vantagens.

Isto implica em desarmar os ânimos atualmente vigentes, permitindo algumas concessões e adaptações que estão ocorrendo, mas ainda se realizam de forma pouco diplomática ou elegante. Parece que o governo vem admitindo que nem tudo que gostaria que ocorresse é possível, pois existem limitações tanto de recursos como de tempo para a sua execução.

Este clima de desconfiança recíproca não está acontecendo somente no Brasil. Em muitas economias, apesar da ampla disponibilidade de recursos financeiros, os grupos privados preferem aplicá-los nos títulos público, a correr o risco dos investimentos, por desconfiarem das autoridades. Isto parece bastante claro nos Estados Unidos, na Europa e no Japão.

Mesmo nos países emergentes, que passam por mudanças dos seus dirigentes, como na China e no México, ainda existem dúvidas. No caso brasileiro, a consolidação democrática e a decidida campanha para a redução da corrupção parecem que podem contribuir para acelerar os entendimentos, apesar dos aparentes desgastes.



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