Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Entrevista de Han Han Para o Financial Times

23 de abril de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

A entrevista concedida por Han Han, o escritor que mantém o blog mais lido na China, ao jornalista David Pulling, publicado pelo Financial Times, apresenta o mesmo estilo do adotado pelo Eu & Fim de Semana do Valor Econômico. Ocorreu durante um almoço no Yi Shu Jia Can Ting (o restaurante dos artistas) nos subúrbios de Xangai. Pratos e serviços são comentados no artigo enquanto se conversa sobre os aspectos vitais para a compreensão atual dos principais acontecimentos na China, como a queda de Bo Xilai.

Han Han é um descontraído autor da novela “Triple Door”, best seller que vendeu rapidamente 2 milhões de cópias, tornando-o famoso. Com 29 anos, casado com uma esposa adorável e pai de uma linda menina, bem sucedido financeiramente, dedica-se com sucesso a pilotar carros de corrida. É o blogueiro mais lido no mundo, admirado pela sua inteligência e habilidade em contornar a censura chinesa, numa disputa como de gato e rato. Postou em 2010, quando o escritor chinês aprisionado Liu Xiaobo ganhou o Prêmio Nobel da Paz, um simples “ “, que equivale tipograficamente à cadeira vazia da cerimônia em Oslo.

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O blogueiro chinês Han Han

O entrevistador esperava uma personagem rude e vaidosa, mas encontrou um homem autoconfiante, com ideias claras e bem pensadas, usando uma linguagem quase lúdica. Ele explica que a educação chinesa tenta criar pessoas homogeneas como os palitos de comer da China. Ele começou a usar o blog em 2006 sobre a censura, disputas de terras, dirigentes corruptos e fábricas poluidoras que estavam atrás do rápido desenvolvimento chinês. Chegou rapidamente a meio bilhão de visitantes, tornando-se o mais famoso no seu país. No seu twitter conseguiu 750 mil seguidores, somente usando um cumprimento chinês, “Wei”.

A entrevista ocorreu num novo restaurante recentemente inaugurado que combina uma decoração chinesa com a ocidental. O entrevistado veio acompanhado de sua esposa Lily e logo colocou na mesa três celulares que sempre tocavam, e ele vestia com roupas de couro todas pretas, esportivas.

A primeira pergunta foi o de delinear a liberdade de expressão na China de hoje. Segundo ele, não se dispõe ainda na China de total liberdade, mas muito mais do que se imaginam no Ocidente. Escrevem com liberdade, mas o governo tem também a liberdade de apagar o que se escreve. Escreve-se enquanto o autor não tem medo, e a liberdade dos censores dependem do humor diário deles. A entrevista é intermediada por descrição dos pratos que vão sendo servidos.

Para ele, não se trata de um jogo. Ele não escreve pensando nos leitores ou no governo, e está convicto que não se deve curvar aos desejos dos que frequentam o seu blog. Muitos nacionalistas chineses atuais atacam Han e ele acha que para continuar a luta é preciso se proteger. Ele usa de ambiguidades, mas não usa ghostwriters.

O entrevistador pergunta sobre Bo Xilai. Ele acha que não se sabe de tudo a seu respeito, pois o governo não é transparente nas informações. Outros chineses já tentaram liderar um movimento popular, como o da Revolução Cultural e muitos intelectuais não apreciam aquele líder, pois não gostam da forma que chegou ao poder e temem não poder se expressar livremente com ele. Mas evita conclusões precipitadas.

Han acha que o ensino oficial da China não reflete exatamente o que aconteceu historicamente, como atribuir ao Partido Comunista o combate aos japoneses, quando isto foi feito por Chang Kai-shek. O entrevistador pergunta sobre três ensaios publicados por Han sobre “na Revolução”, “em Liberdade” e “sobre Democracia”, onde os críticos acharam que a abordagem era gradualista.

O entrevistado acha que todos procuram atribuir seus problemas ao Partido Comunista, quando todo mundo é cúmplice. Só é possível resolver muitos problemas, segundo ele, mudando as pessoas para que se mude a instituição. Discutiram um caso de uma menina que estava sangrando na rua, e todos passavam ignorando-a. O entrevistado acha que há uma sociedade indiferente, tornando o infortúnio invisível.

Discutiu-se sobre a tendência de generalização das eleições locais e sobre as perspectivas de longo prazo para condições melhores, e o entrevistado mostrou-se favorável a esta evolução, esperando contribuir para isto, com esperanças que sua filha viva em condições melhores, revelando uma perspectiva de prazo longo. Mas ele não se mostrou favorável às mudanças radicais. Ele entende que muitos veem nele o que desejam, e outros o acham ruim acreditando que ele é terrível. Ele seria uma simples projeção do que outros pensam desejarem.

O que parece evidente é que Han Han tornou-se o mais célebre entre os bloquistas chineses, mas existem muitos que usando subterfúgios burlam a vigilância dos censores, não havendo uma forma eficaz de se evitar as discussões e propagações de outras ideias que diferem das oficiais. Os especialistas em China, notadamente na Ásia, recebem milhões de mensagens que, usando imagens alternativas, transmitem informações que são apagadas quando se utilizam determinadas palavras ou nomes.

Com a disseminação da internet, não parece mais possível controlar determinados assuntos pela censura. O problema torna-se o da seleção adequada do que pode se aproximar da realidade, e os que refletem simples posições distribuídas por interessados.



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