Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Provocativa Entrevista de Joichi Ito da Midia Lab

3 de janeiro de 2012
Por: Monja Coen | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , ,

Muito interessante e provocativa a entrevista concedida por Joichi Ito, novo jovem diretor da Midia Lab MIT, para a jornalista Luciana Coelho que está em Washington, publicado na Folha de S.Paulo de hoje, e com a íntegra da mesma na Folha.com , com o título “Não há nada que não seja afetado hoje pela internet”. É preciso admitir que já ocorreu uma verdadeira revolução no mundo a partir dos trabalhos efetuados no Vale do Silício, liderado por alguns gênios, e que se generalizaram em todos os setores que envolvem a informática.

O estímulo à criatividade, fugindo dos padrões tradicionais da educação, acabou sendo disseminado e atividades humanas que exigem constantes inovações dependem, na sua eficiência, de sistemas que facilitem atividades fora da rotina do dia a dia, mesmo nas empresas. Constata-se que isto acabou ocorrendo em maior ou menor grau em todas as atividades humanas, acelerando o conhecimento de novas tecnologias em variados setores.

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Joichi Ito em ação na Midia Lab MIT

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Poema de Monja Coen

11 de abril de 2011
Por: Monja Coen | Seção: Depoimentos | Tags: , , , | 4 Comentários »

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Desastres Naturais

Violências Humanas

 

O tornado nos Estados Unidos destrói casas assim como tsunami no Japão.

Os suicidas enlouquecidos matam em escolas, mesquitas, shopping centers, igrejas, ruas.

Há desastres naturais: a Terra é um planeta vivo.

Há movimento de ventos, de águas, de terras.

Movimentos internos, sutis, que nos parecem tão fortes e violentos.

Há violências humanas: ódios, traumas, vinganças, poder, descontrole.

Movimentos internos dos ventos nos corpos, nas mentes. Movimento dos líquidos, dos sólidos.

Movimentos grosseiros, fortes, violentos.

Mas há a ternura, há o cuidado, há o sol suave no céu azul e nas plantas verdes brilhantes.

Cada gotícula de orvalho se dissolve. Os pássaros cantam, voando amarelo, azul canário, verde periquito.

Nuvens brancas passageiras se movem e as folhas dos coqueiros, das goiabeiras, mangueiras balançam suavemente.

Há praias mansas, de águas translúcidas.

Há praias bravas de águas revoltas.

Depois do tsunami, o mar do nordeste japonês está calmo. Os escombros amontoados são aos poucos transformados, remexidos, preparados para a renovação.

Depois da violência no Realengo, no Rio, há uma calma tristonha pelos corredores e salas de aulas. Alunos, alunas, professores e professoras precisam continuar seu aprendizado. Há uma reflexão, talvez, sobre acolhida e rejeição.

Os noticiários procuram entender os assassinos.

Pesquisam suas vidas, suas casas, seus textos e interesses.

Queria pesquisar também as vítimas – as meninas que eram lindas e tinham suas vidas, suas casas, seus textos e seus interesses.

Queremos sempre saber as causas para evitar que os acidentes ocorram.

Há sismógrafos, há seguranças, há sistemas de proteção e prevenção. E se tudo falhar, como falhou? A lágrima é de água e sal.

O que fazer do vento a mais de duzentos quilômetros por hora?

O que fazer das águas a mais de oitocentos quilômetros por hora?

O que fazer do descontrole emocional, da loucura a milhares de quilômetros por hora?

Países em lutas internas. Humanos matando humanos. Humanos matando a natureza. A vida destruindo a vida.

Renova ação.

Recupera ação.

Nos sentimos irmanados no sofrimento e na dor.

Assim como no Japão, norte-americanos fazem uma fila e passam sacos de areia tentando minimizar a invasão dos rios nas casas, nas ruas, nas almas dos seres.

Podemos, sim, fazer muitas coisas.

Podemos nos unir e reconstruir casas e cidades.

Podemos nos unir e descobrir como controlar a radioatividade.

Podemos nos unir e descobrir como funciona a mente humana.

Podemos nos unir e cultivar um bem muito maior do que as limitações das religiões mal compreendidas, das filosofias não entendidas, dos propósitos mal acabados, das economias mal articuladas, das ambições desenfreadas.

Um mundo de ternura.

Masaru Enomoto, que fotografou moléculas de água, nos pede a orar pelas águas de Fukushima.

Perdoem-nos águas, pela nossa ignorância e pela poluição radioativa. Nós amamos você, água sagrada que permeia toda a Terra.

Pensamentos de amor, de cuidado, de ternura.

Circulando.

Acreditando.

Chega de violências humanas. Já nos bastam as da grande natureza. Esta sim, não com raiva, não por rancor ou vingança. A Terra se move, o pluriverso está vivo.

Sentimentos humanos precisam ser entendidos, transformados, cultivando o pensamento maior de fazer o bem a todos os seres.

Isso é treinamento, prática incessante.

Nas escolas, nas casas, nas televisões, nas internets. Um processo coletivo, emergencial.

Por que divulgar tanto o mal?

Por que não divulgar o bem?

A alegria do nascimento, a renovação de Kobe, de Hiroshima. As plantas, os pássaros, as crianças correndo livres.

Cabe a nós, a cada um e cada uma de nós, a nos religarmos à beleza da vida.

Cabe a nós, a cada um e a cada uma de nós, a construir uma cultura de paz.

Comecemos com humildade em atitudes simples, como as pessoas do Japão dividindo alimentos, tristezas e esperanças.

Há tanto a ser feito.

Faça o seu melhor em cada momento.

Perceba as emoções prejudiciais – inveja, ciúmes, raiva, rancor.

Despeje sobre elas algumas gramas de amor, compreensão, sabedoria e compaixão.

Seja a transformação que quer no mundo.

Menos armas, menos munição, menos medo, menos reclamação.

Vamos colocar nossa energia de vida em bem da própria vida?

Sorria, o coelhinho está na lua, trabalhando, suando, batendo o motchi (bolinho de arroz especial).

Confie e aprecie a vida.

Mesmo na dor, mesmo na perda, há sempre uma nova partida.

Que os méritos de nossas práticas se estendam a todos os seres e que possamos todos e todas nos tornar o Caminho Iluminado.

Mãos em prece

Monja Coen


Minha Experiência Num Mosteiro do Japão

28 de março de 2010
Por: Monja Coen | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , | 2 Comentários »

coen123 Hoje, fiquei muito feliz em poder participar deste encontro aqui no Pavilhão Japonês, no Parque Ibirapuera. Agradeço profundamente pelo convite que me fizeram para falar um pouco sobre o Zen Budismo. Ao chegar aqui, muitas doces memórias foram ativadas! Primeiro, a Cerimônia do Chá.  Todas às quartas-feiras, a reverenda Kurigi Roshi vinha nos dar aula de chá, no mosteiro onde pratiquei por oito anos seguidos.

Eram momentos mágicos.  Sem palavras.  O fluir com o fluxo da vida.  Silêncio.  Movimentos simples e precisos. Nada extra.  A Cerimônia do Chá se iniciou com os monges e monjas Zen Budistas.  A partir das ofertas que faziam nos altares.

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Ásia e América Latina

11 de março de 2010
Por: Monja Coen | Seção: Depoimentos | Tags: , , , ,

coen123 Morei durante doze anos no Japão, a maior parte do tempo em mosteiros e templos Zen Budistas. Muitas vezes me perguntava sobre o que estaria aprendendo e o que poderia trazer de volta ao Brasil. Eram muitas as diferenças culturais, econômicas, sociais.

Sim, somos todos seres humanos. Homens e mulheres convivendo e descobrindo se há sentido ou não neste viver. Entretanto, desde a infância, a idéia do coletivo, da coletividade é acentuada na Ásia.

Talvez por serem países tão populosos. Deve também haver inúmeras outras razões. Entretanto, a ênfase no coletivo me fascinava. O não-eu. Desde pequena, meu pai me admoestava:

“Não seja como os carneirinhos de Panúrgio” – uma história antiga de carneirinhos que seguem uns aos outros e acabam se afogando.

A idéia principal era não seguir a ninguém. Abrir seu próprio caminho. Não copiar os outros. Desenvolver a identidade pessoal separada da coletiva.

As crianças, na Ásia, são educadas a serem umas como as outras. Ser diferente é quase um crime. Pensar no bem coletivo antes do bem individual – esta é uma arte a ser apreendida.

Crianças também aprendem a amar e respeitar a natureza, apreciar as flores, as nuvens, a lua, as estrelas. Escrever poesias, contar histórias de insetos, de plantas, de terra. Claro que ensinamos isso também às nossas crianças latino-americanas.

Mas será que as ensinamos a amar a terra e cuidar da terra e de todos os seres? Será que as ensinamos a se sentirem ligadas e sensíveis às necessidades dos outros? Será que as ensinamos a servir em vez de serem servidas? Será que as ensinamos a desenvolver o olhar que percebe a necessidade do outro antes mesmo que o outro assim proclame?

No Japão, há uma expressão que aprecio muito: é preciso ter “Kokoro” (ou côcôrô). Essa palavra significa coração ou mente ou espírito. Na verdade, quer dizer sensibilidade aguçada. Capacidade de sentir e fazer o que é adequado a cada circunstância. Uma adequação que vai além do próprio eu.

Por isso, a noção do não-eu. Manifesta-se em coisas pequenas. É perceptível ao andar, sentar-se, comer, levantar-se, beber, deitar-se. Em cada gesto, em cada movimento, em cada palavra e em cada pensamento podemos reconhecer alguém cujo “kokoro” foi trabalhado, desenvolvido, treinado, educado.

Assim, educar pessoas seria educar, treinar essa essência, essa sensibilidade, esse “kokoro”. O resto, naturalmente, se manifesta. Ler, escrever, somar, multiplicar, desenhar, todas as ciências estariam vinculadas ao desenvolvimento do “kokoro” em um ser humano.

Por isso, quando voltei da Ásia para o Brasil meu sonho era e ainda é o de ser capaz de treinar, educar o meu, o seu, o nosso capital de sensibilidade aguçada, nosso capital humano de ternura e cuidado. Para podermos crescer unidos no sentimento comum de fazer o bem a todos os seres.

Mãos em prece