Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Avaliação Justa da Importância Industrial do Japão

15 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: , , | 2 Comentários »

Um interessante artigo de Chester Dawson do The Wall Street Journal foi publicado no jornal Valor Econômico de ontem, inspirando esta nota, com os dados que foram possíveis de serem coletados nas fontes disponíveis internacionalmente. Ao mesmo tempo em que o artigo informa que o desastre japonês vai acelerar a reforma do seu setor industrial e sua modernização, mostra-se que a redução da importância de sua indústria foi sendo compensada, ao longo das últimas décadas pela sua expansão em outros países. As economias de alto nível de renda per capita foram ampliando o seu setor de serviços ou indústrias sofisticadas tecnologicamente, e as atividades manufatureiras mais simples foram transferidas para países como a China que apresentavam custo mais baixo da mão-de-obra.

O gráfico abaixo mostra a situação em 2008 de algumas economias.

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No caso japonês, no gráfico abaixo, verifica-se que desde 1980 vem ocorrendo uma redução da importância do seu setor industrial no PIB do Japão.

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Mas este outro gráfico abaixo mostra que as empresas japonesas estão realizando crescentemente suas produções no exterior, chegando próximo de 20%.

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Este tipo de dados mostra que, no atual mundo globalizado, não faz muito sentido utilizar somente os dados do PIB para dizer que uma economia está estagnada ou em expansão. Uma parte substancial do crescimento da economia chinesa recebeu a contribuição de investimentos industriais provenientes do exterior, onde a indústria japonesa tem uma participação elevada.

Mas muitas empresas procuraram se aproximar dos mercados consumidores, e os Estados Unidos atraíram muitas japonesas. Agora, a expansão está ocorrendo nas economias chamadas emergentes, e a própria China que já atingiu um estágio razoável no seu setor industrial, passa a fazer investimentos como no Brasil. Não se trata somente de assegurar matérias-primas minerais ou produtos agropecuários, mas utilizar componentes, produtos semielaborados e até alguns de tecnologia avançada para suprir as suas necessidades, que estão se sofisticando também nos consumidores finais.

Tudo isto vem aumentando a interdependência das diversas economias, fazendo com que desastres como os que ocorreram no Japão acabem afetando muitos países no mundo.


Comunicado Conjunto da Reunião dos BRICS

14 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , , , , | 2 Comentários »

Com a reunião dos chefes de Estado e de Governo do Brasil, Rússia, Índia, China e agora também da África do Sul, que passou a se chamar BRICS (ou seja, acrescentando o South Africa), em Sanya, na China, divulgou-se um comunicado conjunto que registra as decisões que foram tomadas. Esta reunião foi precedida por outra de ministros que chegaram ao tema: “Visão Ampla, Prosperidade Compartilhada” para os BRICS, que procurarão pelo fortalecimento da multipolaridade, pela globalização econômica e pela crescente interdependência.

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Presidentes de Índia, Rússia, China, Brasil e África do Sul participam de encontro em Sanya, na China. Foto de How Hwee Young

Eles se manifestaram a favor da reforma do Conselho de Segurança da ONU, bem como do FMI, para que tenham maior eficácia, eficiência e representatividade, aumentando a presença de representantes dos países emergentes.

Repassam as discussões sobre os problemas atuais, como os que afetam os países árabes, manifestaram condolências ao povo japonês e decidiram intensificar a colaboração recíproca para procurar uma regulamentação financeira internacional, preocupados que estão com os fluxos financeiros que podem prejudicar os emergentes. Também estão preocupados com a elevação dos preços das commodities, como energia e alimentos, procurando ampliar a sua oferta.

Mostram-se preocupados com o desenvolvimento sustentado, com o uso de energias renováveis, admitindo que ainda precisem da energia nuclear. Combinaram atuações conjuntas para reduzir as restrições ao comércio internacional, inclusive com o ingresso da Rússia na OMC.

Colaborarão no incremento dos esportes nestes países, bem como na ciência, tecnologia e inovações. Estabeleceram uma agenda das próximas reuniões em diversos níveis, para intensificar a troca de ideias e posições. Estabeleceram que novas cooperações fossem efetuadas na área das cidades irmãs, saúde, pesquisas conjuntas sobre economias, como atualizar a bibliografia dos BRICS.

Como novas propostas, resolveram cooperar na área cultural, esportiva e desenvolvimento verde. Vão promover reuniões de altos funcionários para promover a cooperação científica, tecnológica e de inovações no âmbito dos BRICS.


Mais Explicações Didáticas Sobre a Radiação

14 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , ,

Como as autoridades japonesas aumentaram o risco das radiações das usinas de Fukushima para o nível 7, equivalente ao desastre ocorrido em Chernobyl, todos se mostram preocupados com o assunto, naturalmente. Muitos veículos de comunicação respeitáveis estão dando elementos para uma avaliação mais clara, inclusive pelos leigos. A revista inglesa The Economist elaborou uma escala dos principais desastres atômicos, informando que esta escala da INES (International Nuclear and Radiological Event Scale) é subjetiva, classificando os incidentes como arte do que como ciência, sendo que a de Fukushima é significantemente menor ao meio ambiente do que a de Chernobyl, ainda que esteja no mesmo nível 7. A lista dos incidentes mais graves é a seguinte:

Nível 7 – 1986 – Chernobyl – houve uma explosão no centro do reator; 2011 – Fukushima – houve um derretimento num depósito de combustível provocando radiações flutuantes nas imediações da usina;

Nível 6: 1957 – Kyshtym – falha no resfriamento provocou uma explosão no tanque de lixo radioativo;

Nível 5: 1957 – Windscale – houve um incêndio no centro do reator, e sua fumaça depositou radioatividade nos arredores; 1979 – Three Mile Island – uma falha numa válvula provocou um derretimento na planta nuclear; 1987 – Goiânia – o roubo de uma cápsula radioativa de césio de um hospital abandonado expôs muitas pessoas à radiação.

O The Economist explica ainda que esta escala seja logarítmica, e em algum sentido, por exemplo, o 6 é dezenas de vezes mais danoso que o 5.

Procurando esclarecer o assunto segue também um vídeo de uma filmagem feita pela IPC TV, repetidora da TV Globo no Japão, com a especialista em radiação dra. Emico Okuno, que procura explicar o assunto de forma didática, esclarecendo que a radiação está presente até nas coisas mais banais, ainda que num nível baixo, que pode ser encontrado no: http://bit.ly/eopff5.


Encontro da Dilma Rousseff com Hu Jintao

12 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Intercâmbios | Tags: , | 6 Comentários »

Como esperado, o contato direto entre a presidente Dilma Rousseff com o presidente Hu Jintao consolidou os entendimentos de um intercâmbio de longo prazo entre os dois países emergentes de grande importância no cenário internacional. O comunicado conjunto distribuído pelo Itamaraty confirma que, diplomaticamente, assuntos delicados também foram tratados, como o dos direitos humanos e o reconhecimento da China como economia de mercado, dando sinalizações positivas e relevantes.

O ponto central acertado foi o intercâmbio tecnológico visando o desenvolvimento futuro, mas resultados imediatos também foram alcançados, como as compras de aeronaves da Embraer e a construção na China do modelo Legacy. Na realidade, procurou-se consolidar mecanismos que permitam um intercâmbio mais intenso entre os dois países, evitando-se a propagação de problemas que possam ofuscar esta colaboração, que se dá de igual para igual. Tudo indica que está se realizando um ponto de inflexão, que permitirá acelerar o intercâmbio que já vinha se acelerando.

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Os chineses são hábeis negociantes, inclusive na área diplomática, e a leitura completa do comunicado conjunto dá uma nítida impressão que as demandas dos dois países foram acomodadas adequadamente pelos diplomatas, que se comprometem a estudar assuntos mais sensíveis, prometendo empenho nestes trabalhos. A leitura do texto em português mostra que o comunicado conjunto está redigido de forma clara, mais que os usuais deste tipo de encontro. Espera-se que o mesmo esteja acontecendo no elaborado em chinês, que por utilizar ideogramas possui uma capacidade de traduzir o conteúdo de forma precisa, mais que nos idiomas ocidentais.

Muitos acordos foram estabelecidos e seus conteúdos devem ser examinados com atenção, pois o comunicado conjunto costuma ser somente um resumo dos tópicos principais que foram firmados. Existem mecanismos para acompanhar a sua execução. Há uma grande amplitude nas questões tratadas, abrangendo os principais pontos da agenda entre os dois países, não se referindo diretamente ao problema do câmbio. O que se questiona é o que acabando ficando de fora destes entendimentos.

O comunicado conjunto tem 29 itens, destacando-se os relacionados à política e mecanismos de fomento do intercâmbio, inclusive mundial, cooperação dos bancos centrais, investimentos recíprocos, defesa fomentando o já existente de cooperação espacial, ciência e tecnologia procurando inovações nas tecnologias de informação, recursos hídricos e outros renováveis, inspeção de produtos e quarentena, esportes e eventos mundiais citando a Copa do Mundo e as Olimpíadas, educação e intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores, intercâmbio cultural, fomento do turismo recíproco, agricultura com referência direta à Embrapa, energias em geral e elétrica especificamente, telecomunicações, aeronáutica citando especificamente a Embraer, e outros como os relacionados com as atuações nos organismos internacionais.

Pode-se afirmar, portanto, que as bases para um intenso intercâmbio bilateral foram estabelecidas.


Continuam as Dificuldades dos Residentes no Japão

12 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , , , | 6 Comentários »

Está se noticiando amplamente que as autoridades japonesas elevaram o grau de risco atômico na região das usinas de Fukushima Daiichi, que foram atingidas novamente por fortes terremotos, providenciando a ampliação das zonas de segurança da população, ainda que não se registre agravamento. O grau 7 é equivalente ao que ocorreu na usina de Chernobyl, ainda que a atual radiação em Fukushima seja inferior a dela. Lá ocorreu uma explosão atômica na usina da Ucrânia, diferente da japonesa, onde a explosão foi provocada pelos gases.

Ainda assim, os residentes no Japão, inclusive alguns brasileiros, informam que está ocorrendo uma banalização dos terremotos, e dos seus danos, dada a elevada quantidade dos tremores que estão ocorrendo acima de 6 graus na escala Richter. Mesmo que estes abalos estejam causando estragos materiais nas residências, bem como afetando o estado psicológico dos estrangeiros, não acostumados com o mesmo treinamento e cultura sobre os terremotos como os japoneses. Os indivíduos são desiguais e o medo não pode ser explicado pela lógica.

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Presidente da Tepco Masataka Shimizu. Novos tremores causam danos em residências

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Concerto de Lançamento do SOS Japão na Sala São Paulo

12 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Notícias | Tags: , | 2 Comentários »

O concerto de lançamento do SOS Japão na Sala São Paulo, com a especial participação do Coro da OSESP, regida pela maestrina Naomi Munakata, e da Orquestra de Cordas da mesma orquestra, regida por Wagner Polistchuk, transcorreu conforme o programado pelos seus organizadores. Começou com o triste Réquiem, de Toru Takemitsu, três peças de Heitor Villa-Lobos e uma interessante Suíte Borboleta, de Yoshinao Nakata, que ficou restrita em dois movimentos.

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A surpresa acabou sendo a fala da Monja Coen, que vai postada a seguir:

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Um Brasil Desconhecido Mesmo dos Brasileiros

11 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: , ,

Um dos grandes problemas mundiais continua sendo o seu abastecimento com alimentos e o Brasil se mostra como um dos países onde a expansão da produção agroindustrial apresenta as melhores perspectivas. Até o passado recente, o Piauí era considerado o maior exemplo de uma região problemática, com baixo nível de renda. Mesmo os brasileiros que conhecem o meio rural brasileiro se impressionam com a rapidez do seu atual desenvolvimento. O jornal Valor Econômico traz hoje um importante artigo do jornalista Fernando Lopes com o título “Produção de grãos avança nas chapadas do ‘Mapito’” (Maranhão, Piauí e Tocantins), que pode ser acessado pelo: http://www.valoronline.com.br/impresso/agronegocios/105/410921/producao-de-graos-avanca-nas-chapadas-do-mapito

A matéria traz para os incrédulos fotos de uma fazenda de 24.000 hectares de área plantada no Estado do Piauí, bem como os equipamentos que estão sendo utilizados, que pode ser verificado parcialmente no site acima indicado. Em função dos cargos que exerci no governo federal brasileiro, tive a oportunidade de visitar cuidadosamente muitas destas áreas, que apresentavam condições semelhantes aos melhores do sudeste brasileiro, conhecido pelo seu desenvolvimento rural. A fronteira agrícola chegou lá, que apresenta uma topografia conveniente para grandes e racionais explorações rurais, das melhores do país.

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Dramas Humanos Que Continuam em Fukushima

11 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , ,

A vida continua no Japão e no mundo, mas há que se destacar os dramas das famílias daqueles que continuam trabalhando nas usinas de Fukushima, com elevados riscos para suas vidas, decorrente da irresponsabilidade dos dirigentes da TEPCO, empresa de energia elétrica proprietária delas. Os que se ficaram conhecidos como os funcionários samurais estão conscientes das suas responsabilidades e dos riscos que suas vidas correm, merecendo a mais profunda solidariedade de todos, principalmente de seus familiares.

O site do Daily Yomiuri Online relata alguns casos dos dramas por que estas famílias estão passando. Há um relato de uma esposa que faz parte dos membros removidos para fora dos limites de 20 quilômetros estabelecidos pelas autoridades, cujo marido continua trabalhando na usina. Estão casados há 20 anos, com um filho universitário e uma filha no nível colegial. Seu marido tem orgulho do trabalho que vem fazendo, e num jantar revelou à família que no dia seguinte seguiria para o trabalho, tendo a esposa providenciado roupas e meias para uma semana. Ela gostaria de dizer: “Você precisa ir?”, mas respondeu somente, “Sei…”. No dia seguinte, ela informou à filha: “O pai escolheu ir por causa do seu senso de responsabilidade, e ele está trabalhando pelos outros”. A filha respondeu: “Meu pai é brilhante, ele é um herói”.

DY20110411103053274L0Alguns dias depois, o marido retornou para casa e disse a ela: “Eu trabalhei num lugar onde o nível de radiação era elevado”, e dormiu até o meio-dia, e ela entendeu que seu trabalho foi extremamente duro. Os parentes a criticavam por não fazer nada para impedir o seu marido a continuar trabalhando, mas ela informou que pensar nisto poderia destruir seus nervos. “É meu trabalho como esposa pensar que ele está a salvo e esperar a sua volta após um trabalho arriscando a sua vida”.

Outros casos semelhantes estão relatados no artigo do Yomiuri, informando que todos os trabalhadores estão cansados, cientes que estão trabalhando em áreas de alta radiação, mas sentem a responsabilidade que pesa sobre eles. Alguns são de empresas subcontratadas que efetuam outros serviços na usina. Suas famílias procuram dar o suporte que eles necessitam procurando não criticar suas atitudes.

Apesar de poderem utilizar os telefones celulares, procuram não incomodá-los enquanto estão trabalhando, enviando somente mensagens escritas. Acompanham pelo noticiário da televisão o que está acontecendo. Estes ombros amigos são vitais para os que estão trabalhando, com o espírito do bushido, o código de honra dos samurais, pensando na coletividade.

Mas também os seus familiares, principalmente as esposas que ficaram com todos os encargos de continuar a administrar os seus lares, cuidando dos filhos, resistindo às pressões dos parentes. O desgaste físico e psicológico delas deve ser sobre-humano, mas se apoiam na cultura dos japoneses, que lhes impôs responsabilidades difíceis de serem avaliadas pelos ocidentais.

Muitos ainda possuem a imagem de que as mulheres japonesas são submissas, caminhando na rua atrás dos seus maridos. Na realidade, as decisões fundamentais da família e da sociedade japonesa dependem delas, tanto na administração do seu patrimônio, que significa também os investimentos do país, e educação dos filhos que é a continuidade da família e do Japão.

Se os trabalhadores das usinas podem ser considerados samurais, elas são as heroínas que continuam sustentando o país, que certamente emergirá mais forte, diante das duras provas por que estão passando.


Distorções nas Análises Econômicas

11 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais | Tags: , , ,

Temos insistindo, como economista, que muitos colegas apresentam análises que refletem mais os seus interesses, muitos ligados ao sistema financeiro do que aos da sociedade. Surge agora uma onda entre os mais credenciados acadêmicos mundiais mostrando que muitos dos supostos conhecimentos de macroeconomia e instrumentos estatísticos possuem limitações que não são devidamente alertados para os jornalistas e seus leitores leigos. Um crítico que vem insistindo nesta linha é o prêmio Nobel Joseph Stiglitz, que pelo site de uma organização chamada Project Syndicate publica um importante artigo reproduzido no O Estado de S.Paulo de hoje.

JOSEPH STIGLITZ

Joseph Stiglitz em foto de Antonio Milena/Agência Estado

Utilizando o lamentável exemplo de Fukushima, Joseph Stiglitz informa que os cientistas divulgaram que os riscos de derretimento nuclear, provocando catástrofes na usinas, haviam sido praticamente eliminados. De forma similar, que na crise financeira internacional de 2008, com inovações dos instrumentos estatísticos e financeiros, os riscos poderiam ser reduzidos ao mínimo.

Tecnicamente, os cientistas e os financistas subestimaram e iludiram não só a sociedade como a eles próprios, sem compreender a complexidade dos riscos. Em termos estatísticos, os eventos raros (chamados de black swan ou cisnes negros) têm uma distribuição estatística que originam de causas grossas (fat-tail) diferindo das chamadas normais, ou seja, podem ocorrer mais nos extremos da distribuição. Numa explicação mais clara para os leigos, são eventos que se imaginavam poder ocorrer a cada 100 anos, e que estão ocorrendo a cada 10 anos.

Lamentavelmente, isto elevou os lucros dos bancos e das empresas de energia elétrica, com consequências catastróficas. Os alemães suspenderam o funcionamento das usinas similares, o que não vem ocorrendo nos Estados Unidos, como informa Joseph Stiglitz.

No caso do sistema bancário, inventaram que alguns bancos eram tão grandes que não poderiam quebrar, pois as autoridades monetárias seriam obrigadas a intervirem, ajudando-os. Os lucros foram privados, enriquecendo-os, mas os prejuízos foram socializados, sendo pago por todos. E continua havendo uma resistência política para o controle dos fluxos financeiros internacionais, que podem complicar inclusive a situação brasileira, cujas autoridades estão atentas, contrariando os interesses das instituições financeiras, seus economistas e jornalistas lobistas.

Haveria outros cisnes negros à espreita? Stiglitz informa que sim, o aquecimento global e as mudanças climáticas.


Tsunami de Informações Sobre a China

11 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , , ,

O verdadeiro tsunami de informações sobre a China que está ocorrendo com a visita da presidente Dilma Rousseff àquele país dificulta a seleção das notícias mais relevantes. Muitas informações originárias de jornais internacionais, mesmo tentando ser isentos, sempre apresentam vieses ideológicos e naturais interesses de outras potências, como o exagero dos assuntos relacionados aos direitos humanos, ainda que eles sejam importantes e possam ser mencionados genericamente nos comunicados conjuntos.

O Brasil tem uma melhor consciência do que é de seu interesse nacional, como o relacionamento de longo prazo com a atual economia mais dinâmica no mundo. O que interessa é estabelecer bases sólidas para um intercâmbio como o de tecnologias, onde ambos os países possuem avanços em determinados setores, podendo interessar uma parceria para a sua evolução. Os chineses, pela estrutura do Partido Comunista Chinês, presente em todas as organizações relevantes e com uma estratégia profundamente estudada de longo prazo, sabe exatamente o que pode obter de interessante no intercâmbio com o Brasil.

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1. Presidente Dilma Rousseff desembarca na China. Foto Frederic J. Brown – AFP.

2. Capa do suplemento espcial do Valor Econômico

O jornal Valor Econômico inclui na edição de hoje um suplemento especial referindo-se às oportunidades e desafios nas relações bilaterais, com alguns textos resumidos em inglês. Como operação de consequências imediatas, noticia que será anunciada durante a visita a compra de 35 jatos BEM-190 da Embraer, com capacidade para 114 passageiros, pelas empresas chinesas, dentro da linha de aumentar as exportações brasileiras de produtos de maior valor agregado. E noticia a possibilidade de produzir na joint venture que mantém naquele país os jatos executivos do tipo Legacy 600.

A grande comitiva que acompanha a presidente Dilma Rousseff poderá colher alguns resultados interessantes, mas a sua finalidade básica deve ser aumentar o conhecimento recíproco para identificar as oportunidades de negócios interessantes, principalmente que tenham conteúdo tecnológico mais avançado.

É preciso entender que a China é um país e uma economia complexos, com longa história e vasta cultura, com diversidades pelas suas muitas regiões. Com o rápido crescimento por que vem passando nas últimas décadas, desenvolveu tecnologias avançadas em muitos setores, como o da construção civil e infraestrutura, dispondo de elevada capacidade de investimentos. No entanto, só nos interessam na medida em que não exijam a utilização de seus recursos humanos, que são abundantes, em obras locais, como estão fazendo em países de menor nível de desenvolvimento. O Brasil já conta com um complexo industrial, agrícola e de serviços, mais avançado do que o normal para economias do mesmo nível de renda.

Sendo o Brasil um país relativamente jovem, com história ainda recente, e uma elevada miscigenação étnica e cultural, contando com uma invejável disponibilidade de recursos naturais, uma biodiversidade impar no mundo, tem todas as condições para discutir de igual para igual, como já fez com os Estados Unidos. Mas, como todos os jovens, algumas vezes somos mais ousados e muitos dos nossos empresários procuram resultados de curto prazo.

Os interesses nacionais brasileiros devem ser colocados acima de tudo, como os chineses também os fazem. Há mais interesses comuns do que aspectos que nos separam. Vamos procurar tirar o máximo proveito desta oportuna viagem da presidente Dilma Rousseff que será relativamente longa, até a reunião de cúpula do BRICs que deverá ocorrer na próxima quinta feira.