Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entrevista de Francisco Dornelles para o Valor Econômico

9 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , ,

Francisco Dornelles, que está deixando o Senado, é uma das personalidades brasileiras que acumularam longas e profundas experiências também pelo exercício de variadas funções no Executivo. Depois de todos estes anos de vida pública, suas experiências, inclusive frustrações como apresentado na entrevista aos jornalistas Raquel Uchôa e Ribamar Oliveira do Valor Econômico, mostram as dificuldades existentes para a administração de um país tão complexo como o Brasil. Além de não conseguir soluções para seus problemas fundamentais, ainda continua acrescentando outros que acabam ampliando mais as responsabilidade de todos, dos eleitores, dos parlamentares, dos que estão no comando do Executivo, como até dos burocratas que não conseguem proporcionar uma operacionalidade para a gigantesca máquina da administração pública.

O conhecimento dos problemas aposentados, do seu ponto de vista de um experiente ator neste cenário brasileiro por muitas e muitas décadas, mostra como eles são difíceis de serem equacionados, mas, se não se desejar condenar o Brasil a uma estagnação, os mais graves terão que ser enfrentados. Não se trata de quem está no governo ou na oposição, pois ele esteve em ambos os lados, lutou para sanar muitos, mas os que se multiplicam hoje mostram que poucos avanços foram obtidos. Se suas observações forem aproveitadas, de alguma forma pode haver um ponto de inflexão, onde as soluções superem o surgimento de outros obstáculos.

Plenário do Senado

Francisco Dornelles atuou no Executivo e no Legislativo

Ele lamenta não ter conseguido a reforma do setor financeiro, reconhecendo que o Conselho Monetário Nacional, hoje só constituido pelo ministro da Fazenda, ministro secretário do Planejamento e presidente do Banco Central, é que fixa a meta inflacionária a ser perseguida pelo Banco Central, que, em sua opinião, deve ter a plena autonomia para tanto. Todos, que possuem alguma experiência na administração pública, sabem que somente estas três autoridades não formam um verdadeiro Conselho que tenha liberdade para discutir alternativas.

Também lamenta não ter conseguido a reforma do sistema orçamentário, que entende deva ter a sua anualidade modificada, pois, ao seguir o ano civil, fica com a sua decisão concentrada no período mais difícil que é o final de ano. Em muitos países, reconhece-se que a função do Legislativo mais importante é a discussão deste orçamento, o que não acontece no Brasil.

Ele é também a favor do voto distrital como uma forma de ligar mais diretamente os eleitores aos eleitos, pois, no atual sistema proporcional, a responsabilidade fica diluida por uma bancada que é eleita por Estado, impossibilitando esta fiscalização mais próxima.

Entende que o problema crucial da economia brasileira é recuperar a sua capacidade de investimentos, que hoje está concentrada em algumas estatais como a Petrobras que está profundamente atingida pelas críticas. Ele entende que as pessoas responsáveis pelas irregularidades devam ser punidas e não as empresas, estatais ou privadas, que concentram os investimentos.

Como não existe uma preocupação com a eficiência da administração pública, a tendência que se observa é do continuo crescimento da máquina pública, até para o atendimento das necessidades sociais, que de alguma forma já vêm sendo contempladas, não havendo recursos tributários suficientes para a sua expansão.

Francisco Dornelles entende que deva haver uma forte desburocratização, uma privatização de muitas estatais, e que o erro cometido na Petrobras, onde ela ficou com a responsabilidade de 30% das concessões, precisa ser corrigido. Para que possa se contar com o setor privado, inclusive empresas estrangeiras para arcar de fato com os pesados investimentos indispensáveis.

A íntegra da entrevista pode ser acessado no http://www.valor.com.br/politica/3809092/temos-que-separar-empresas-das-pessoas .


Assumindo Riscos com Cautela

2 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

Com a credencial de ter acumulado em algumas décadas uma fortuna estimada em R$ 52 bilhões segundo a Forbes, o empresário e filantropo brasileiro Jorge Paulo Lehmann apresentou uma aula magna para os alunos da EBAPE – Escola de Administração Pública e de Empresas da FGV – Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. Ele relatou a sua trajetória, que começou com algumas dificuldades, mas conseguiu consolidar-se com uma equipe competente formando o Banco Garantia, expandindo pela aquisição das Lojas Americanas, e a compra da Brahma, formando a AB InBev, o maior grupo cervejeiro do mundo, alem de controlar agora o Burger King, entre outros empreendimentos internacionais. Ele ressalta que não é um professor, não é um intelectual e não têm teorias complicadas, mas expôs o que acha importante na vida econômica e que não é discutido nas escolas, segundo um artigo publicado no site do jornal O Globo, segundo um artigo escrito por Maíra Amorim.

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                     Caricatura do empresário bilionário e filantropo Jorge Paulo Lehmann –
                                       Arte/Igor Machado, publicado no O Globo

Ele considera, como primeiro aspecto, que o risco é importante, tanto na vida comercial como individual. Acredita que com muitos estudos, profissionais tentam transformar os riscos em formuletas matemáticas acabando por não tomar decisões. Segundo ele, a única maneira de aprender é ir treinando aos poucos. Quem não arrisca acaba ficando com a mediocridade igual a dos outros, e todo o mundo deve tentar ser excepcional fazendo algo diferente e especial, segundo o artigo.

Nascido em 1939, em 1960 com 26 anos ele estava com o nome sujo na praça. Ele optou por ficar no mercado financeiro profissionalmente. Ao invés de tentar um emprego numa grande organização, ele escolheu por começar com um pequeno empreendimento, que se transformou no Banco Garantia, onde foi capaz de reunir uma equipe competente, que entende como um ensinamento relevante.

Além de tomar riscos, com a devida cautela, ele entende que as pessoas de sucesso costumam serem fanáticos pelos focos, e ele cita Sam Walton que construiu o Walmart e até o Warren Buffet que é sócio dele em alguns empreendimentos. Outra lição é ter sonhos grandes, para conseguir sempre as melhores empresas, o que vem perseguindo na sua carreira.

Finalmente ele destaca a eficiência, sempre procurando melhorar o que for possível. Com o sucesso e a fortuna que acumulou tornou-se um filantropo, fundando o Instituto Lehmann que se dedica a proporcionar condições para a melhoria do conhecimento, como a tradução para o português das melhores aulas dadas nas universidades norte-americanas, que podem ser acessadas gratuitamente no Brasil.

Temos muito que aprender de suas preciosas lições.